Abril Azul: palestras voltam o olhar para mães atípicas
Na edição deste ano, o foco das atividades foi cuidar de quem cuida
Por: DANIEL ELIAS MTB: 59.233 | 03/05/2024

Cuidar de quem cuida. Esse foi o enfoque das palestras que fizeram parte da programação do Abril Azul, em alusão ao Dia Mundial de Conscientização do Autismo, celebrado no domingo (2 de abril). O encontro, promovido pela Secretaria de Educação (Seduc), no Auditório Jornalista Roberto Marinho, voltou o olhar para as mães atípicas de alunos atendidos na rede municipal de ensino.
Esse foi o segundo ano consecutivo em que a Seduc promove atividades alusivas sobre a temática do autismo. Desta vez, as palestras buscaram demonstrar para as mães de alunos atípicos que elas não estão sozinhas e que podem contar com a rede de apoio. A primeira, ministrada pela psicóloga educacional Adriana Benia, trabalhou sobre o tema “Maternidade Atípica – A Importância de Cuidar de Quem Cuida”.
Ao longo de toda a conversa, a psicóloga buscou mostrar a importância de não cuidar apenas do aluno, mas de estender esse acolhimento às famílias também. Para reforçar o discurso, Adriana Benia trouxe informações baseadas em pesquisas na área. Em uma delas, após análise de cerca de 2 mil mulheres com filhos atípicos, no período de quatro anos e meio, foi possível diagnosticar o grau de estresse que vivem.
De acordo com a pesquisa, o nível de cortisol apresentado nos exames das mães atípicas representa o mesmo de um soldado em guerra ou mesmo de um sobrevivente ao holocausto. “Por isso, é fundamental que tenhamos um olhar empático e acolhedor para essas mulheres. Para que possam entender que não estão desamparadas e que podem contar com as escolas, ou mesmo, umas com as outras”, destacou a psicóloga.
Adriana Benia aproveitou o momento para enfatizar a necessidade de as mães atípicas buscarem adotar hábitos básicos e saudáveis. “Sabemos do quão desafiador é a educação dos filhos. Mas dentro das suas possibilidades busque ter uma noite sono, dormindo pelo menos de 7 a 8 horas. Tenha uma alimentação regrada e balanceada. Conheça os seus limites e viva a maternidade de uma forma tranquila e prazerosa”, enumerou.
Na sequência, foi a vez de a coordenadora do Centro de Apoio Psicossocial (Caps I), a terapeuta ocupacional Cínthia Alves de Araújo Bissa, conversar com os presentes. Lotada na Secretaria de Saúde (Sesap), a profissional realizou a palestra com o tema “Voltar a Olhar”. Em sua fala, ela corroborava com os tópicos levantados pela psicóloga anteriormente e complementava com informações adicionais.
Uma delas diz respeito à necessidade de as mães reservarem um tempo exclusivo para elas. Para isso, a terapeuta ocupacional lançou um desafio às mulheres presentes. “Tentem reservar pelo menos 30 minutos para fazer um exercício rotineiro. Destes, todos os dias, tire 15 minutos para uma meditação. Depois, 10 minutos para fazer um registro do dia. Escreva os seus sentimentos relacionado a tudo que aconteceu. Os 5 restantes apenas relaxe”, detalhou.
“As mães atípicas precisam entender que não dão conta de tudo sozinha e está tudo bem. Só vai ser possível obter resultados significativos se ela estiver bem e, para isso, vai precisar de apoio”, explicou Cinthia Alves. “Estamos aqui para formar uma rede. Uma esticar as mãos para a outra e se ajudar de forma mútua. Mas, para que isso aconteça, todas precisam estar disponíveis para que sejam adotadas, para que recebam esse acolhimento”.
A organização do Abril Azul ficou a cargo da Coordenadoria de Educação Especial e Inclusiva. Segundo a diretora da Coordenadoria, Lara Arenghi, atualmente a rede municipal de ensino conta com, aproximadamente, 1,4 mil alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) matriculados na rede municipal de ensino. “Decidimos ir adiante. Olhar para o ponto sensível nessa relação que são as famílias. Precisamos cuidar de quem cuida, para que eles possam fazer o mesmo com os filhos deles. Por isso, o enfoque esse ano”.