Atendimento Educacional Especializado: um olhar inclusivo no aprendizado dos alunos

Seduc passa a contar com quatro novas salas de Atendimento Educacional Especializado

Por Daniel Elias | 28/3/2023

Era apenas o segundo dia que a aluna Mariane Vieira da Silva, 5 anos, frequentava a sala de Atendimento Educacional Especializado (AEE). Ainda se acostumava com aquele ambiente e com as atividades propostas ela professora Marcilene Gomes da Silva. Recém diagnosticada com transtorno do espectro do autistmo (TEA), a estudante passou a frequentar uma das quatro novas unidades de AEE, instalada na EM João Gonçalves, situada no Bairro Aviação.

Mariane da Silva passou a frequentar a sala de AEE, uma vez por semana. A cada encontro com a aluna, a professora Marcilene da Silva trabalha para desenvolver as habilidades necessárias. O reconhecimento de letras e números e o atendimento a comandos como sentar na cadeira estão entre as ações promovidas. As atividades realizadas no contraturno escolar dão suporte ao aprendizado da estudante em sala de aula no ensino regular.

Foi na sala de Atendimento Educacional Especializado que a menina recebeu o seu primeiro atendimento por um profissional específico. De acordo com o policial militar, Rodrigo dos Santos Silva, 35 anos, pai da Mariane, o diagnóstico da filha saiu recentemente e o tratamento com médicos especializados ainda não tinham começado. Logo que o resultado foi divulgado, o plano de saúde iniciou as conversas com ele e a esposa.

Apesar de ser os primeiros dias frequentando o AEE, o policial militar destaca que já percebe algumas mudanças de postura da filha. A que mais chamou a atenção dele foi o comportamento ao entrar na escola. “Ela tinha dificuldade ao entrar na sala. O ventilador a incomodava. E depois que passou a participar das atividades do AEE, ela se ambientou melhor e ficou mais tranquila”, afirmou.

Para o pai da menina, foi uma surpresa saber que a rede municipal de ensino oferecia um atendimento especializado que daria o suporte que, até então, não tinham recebido. “O impacto maior foi para nós. Ela recebeu o primeiro atendimento aqui na escola. Coisa que não aconteceu com o plano de saúde ainda. Foi um alívio saber que a nossa filha teria todo esse cuidado aqui na unidade. Tudo é muito novo para a gente e esse suporte de verdade é fundamental”.

Partilha – Mariane da Silva participa das atividades no AEE junto com outro aluno da rede municipal de ensino de Praia Grande. Entretanto, para Joaquim Maniçoba de Oliveira, também com 5 anos e diagnosticado com TEA, o acompanhamento no contraturno escolar não é uma novidade. Ele já frequentava a sala que funciona na EM Roberto Mário Santini, situada no Bairro Guilhermina. Porém, por residir no Aviação, o pequeno foi encaminhado para o novo equipamento na EM João Gonçalves.

Os pais de Oliveira acompanham, desde então, o serviço oferecido pela Secretaria de Educação no contraturno escolar para os alunos público-alvo da Educação Especial. Para a mãe do pequeno, a professora Jéssica Hosana Maniçoba Rabelo, 30 anos, a sala de AEE foi essencial para o desenvolvimento do filho. Ela destaca como ponto forte a parceria e a troca de informações entre a família e a professora.

“Ela sempre foi muito parceira nossa de comentar como foi o comportamento do Joaquim durante a atividade. Com essa informação, conseguimos ajudar ele em casa e mesmo informar a professora de sala de aula”, comentou Jéssica Hosana. “Inclusive levando essa troca para as terapias que faz. Desta forma, todos acabam por falar e agir da mesma forma. É muito bom quando a gente tem apoio, pois, quanto mais pessoas que entendem auxiliam mais suporte a família tem”.

O suporte oferecido nas salas de AEE faz com que a mãe do pequeno Joaquim deixe um recado para os pais e responsáveis de alunos público-alvo da Educação Especial. “Quando a gente tem instrumentos para contribuir com o desenvolvimento da criança precisamos abraçar e utilizar o máximo de mecanismos possíveis. Sei que para muitos, por conta da rotina de trabalho, é complicado ter que vir fora do horário de aula. Mas precisa usufruir porque tem um benefício incrível”.

Respaldo – Na EM João Gonçalves, o respaldo citado por Jéssica Hosana recebe o nome de Marcilene. Professora da rede, ela atua há 11 anos nas salas de Atendimento Educacional Especializado (AEE), dando suporte aos alunos público-alvo da Educação Especial. Para a educadora, o trabalho realizado com as crianças depende diretamente do fortalecimento do vínculo criado com os estudantes e, principalmente, com a família.

Com objetivo de estreitar essa relação, assim que o aluno é encaminhado para a sala de Atendimento Educacional Especializado, a professora faz uma entrevista com os pais ou responsáveis da criança. Nesta conversa inicial, a educadora busca entender qual o caso específico do estudante. No bate-papo, a docente busca entender questões como quem percebeu algo de diferente, como foi a reação da família em primeiro momento e se recebe algum tipo de assistência.

Após essa conversa inicial, a professora começa o atendimento dos alunos na sala de AEE. Nos primeiros dias, durante as atividades, a educadora realiza a avaliação pedagógica por meio de diferentes exercícios. É neste contato que a docente conhece as habilidades apresentadas pela criança, não apenas as cognitivas, mas, bem como, a interação social também. Em posse dessas informações é que ela cria o plano de ensino, buscando destacar as potencialidades de cada um.

Para que esse processo alcance o resultado esperado, a Marcilene da Silva aposta na relação com a família. “Por isso, acredito que o diálogo aberto com os pais é fundamental. Eles precisam confiar em mim pois, por vezes, pode ser que a criança apresente uma crise e os pais devem entender que aquele desconforto faz parte do processo de atendimento. Porque aqui é onde o aluno poderá experimentar romper a barreira, pois estará assistido. É uma relação de troca”, destacou.

Nessa via de mão-dupla, a professora afirma que seria uma pessoa bem diferente se não atuasse nas salas de AEE. Segundo a educadora, atender os alunos despertou nela o olhar cuidadoso para com o próximo. “Algumas famílias têm as dores delas. Você perceber que o seu trabalho promoveu uma mudança neste contexto é muito gratificante. Isso faz com que eu valorize as coisas mais simples da vida. Esse modo de pensar que tento passar para os pais dos alunos que eu atendo”.

Crescimento – O atendimento oferecido pela professora Marcilene da Silva na EM João Gonçalves só se tornou possível graças à ampliação no número de pólos de Atendimento Educacional Especializado. Em 2023, a Secretaria de Educação passou de 28 para 32 salas. Além da unidade citada acima, as EMs Newton de Almeida Castro (Bairro Vila Sônia), Gregório França de Siqueira (Samambaia) e Professora Maria Clotilde Lopes Comitre Rigo (Esmeralda) passaram a contar com o equipamento.

De acordo com a responsável pela Coordenadoria de Educação Especial e Inclusiva, Lara Arengui, todos alunos público-alvo da Educação Especial tem direito de participar das salas de AEE. Atualmente, a rede municipal de ensino conta com 2041 estudantes de inclusão. “Trata-se de um equipamento garante um aporte e suporte o ensino oferecido no ensino regular. A criação dos novos polos veio justamente para facilitar o acesso das famílias”.

Com a ampliação no número de polos, a Secretaria de Educação visa aumentar também o número de alunos que participam das atividades no AEE. Em 2022, cerca de 1200 crianças foram atendidas pelas 28 unidades. Com o número saltando para 32 salas, a previsão é de que, aproximadamente, 1600 estudantes sejam contemplados. “Queremos cativar cada vez mais as famílias. Para isso, apostamos nas reuniões de acolhimento para mostrar a importância deste serviço”.