Jovens da Baixada desejam independência financeira

Gestores e representantes de ongs traçam perfil dos jovens da região

29/2/2008

Foto Indisponivel

Jornalista: Christiane Disconsi , com colaboração de Melchior de Castro Jr


Bárbara tem 18 anos, mora com a mãe e irmãos, e como outras jovens de sua idade adora ir à balada no final de semana. A caminho do trabalho, um bico no comércio em razão da temporada de verão, ouve no MP3 muito funk, axé e rock. Como detesta praticar esportes, praticamente restringe sua atividade física à bicicleta que utiliza para ir à escola, onde faz um curso profissionalizante. Ela evita o transporte público, já que considera o preço da passagem abusivo para quem ganha apenas salário mínimo. Aliás, conquistar a independência financeira é seu sonho. Ganhar mais possibilitaria constituir sua própria família, mas para isso sabe que precisa estudar mais e em boas escolas. Adora seus amigos e não tem preconceito em relação àqueles que se declaram homossexuais. Já no relacionamento afetivo, deseja namorar, mas os garotos só querem saber de ficar.

Bárbara, na verdade, é uma personagem fictícia, que encarna as principais características de uma jovem que vive na Região Metropolitana da Baixada Santista. Seu perfil foi traçado com base em informações colhidas junto a gestores de programas de sociais e integrantes de ongs voltadas à essa parcela da população. O estudo também traçou o perfil do rapaz, batizado de Zezinho (confira no quadro abaixo).

O resultado desse levantamento foi divulgado na segunda etapa do Encontro Regional de Políticas para a Juventude, ocorrido em Praia Grande, esta semana. Durante o evento, os participantes moldaram os dois personagens com as características do jovem da região.

O modelador do projeto, José Gabriel Pesce, destaca alguns pontos, como o anseio pela independência econômica. “Constatamos que o jovem deseja a independência financeira e isso, no caso dos meninos, se materializaria na compra de um carro. Porém, é algo que tanto os garotos como as meninas têm grande dificuldade para materializar”.

Como aspecto negativo, Pesce ressalta a falta de interesse político e de participação. “Foi apontado que eles só tiraram o título de eleitor aos 18 anos, porque é obrigatório. O jovem precisa ser mais participativo”.

A intenção dos profissionais envolvidos no projeto é traçar um único documento com o perfil dos jovens do Estado de São Paulo. Essas informações poderiam ser utilizadas tanto pelo Governo Estadual como pelos próprios municípios para criar linhas de políticas públicas.

Para concluir o mapeamento ainda serão realizados 16 encontros nas regiões administrativas do Estado e na Capital. O resultado deve sair até o final do ano. O próximo encontro ocorre dia 7 de março, na Região Administrativa de Presidente Prudente, composta por 53 cidades. A meta é planejar ações voltadas aos jovens até 2010. Vale frisar que só na Baixada Santista vivem cerca de 450 mil pessoas na faixa de 15 e 29 anos, cerca de 4,9% dos jovens de todo Estado.

Confira o perfil do jovem da Baixada Santista:

BÁRBARA 18 anos

Mora com a mãe e irmãos (eventualmente um padrasto)

“Fica” com a intenção de namorar

Os amigos também “ficam” e ela possui algum amigo com filhos e algum amigo homossexual

Faz bicos no comércio e aproveita trabalhos na alta temporada, recebendo R$ 380,00

Concluiu o Ensino Médio e faz algum curso profissionalizante
Possui título de eleitor, tirado aos 18 anos

É católica
ou evangélica não praticante

Acessa a internet fora de casa

Gosta de ouvir funk, axé, pagode e rock

Pouca prática de atividades esportivas

Sai nos finais de semana (lazer: baile, balada, passeio etc.)

Utiliza transporte coletivo e possui bicicleta

O que mais a irrita no dia-a-dia: preço e qualidade do transporte público

O que mais a alegra no dia-a-dia: oferta de atividades culturais, esportivas, shows, oficinas e campeonatos

Sonhos: estudo, independência financeira e constituir família (a independência financeira é o que apresenta as maiores dificuldades)

Principais ameaças: desagregação familiar, violência urbana, qualidade da educação, falta de desenvolvimento regional

Principais oportunidades: turismo, petróleo e gás, porto, proximidade entre os municípios

ZEZINHO 19 anos

Mora com a mãe e irmãos

“Fica”

Tem alguns amigos que ficam, conhece gays e algum amigo tem filhos

Faz bicos na construção civil, no comércio informal e aproveita trabalhos na alta temporada, recebendo R$380,00 (em alguns casos específicos R$ 500,00/600,00)

Já concluiu o Ensino Médio e faz curso profissionalizante (não houve consenso nesta proposta)

Possui título de eleitor, tirado aos 18 anos

É católico / evangélico não praticante

Acessa a internet fora de casa

Gosta de ouvir funk, axé, pagode e rock

Joga bola e se pode observar um aumento dos esportes radicais

Sai no final de semana e vai aonde as meninas se concentram

Possui bicicleta e utiliza ônibus

O que mais o irrita no dia-a-dia: preço e qualidade do transporte público; não ter acesso à informação

O que mais o alegra no dia-a-dia oferta de atividades culturais, esportivas, shows, oficinas, campeonatos

Sonhos: independência financeira (carro), ocupação profissional que permita momentos de lazer (a independência financeira é o que apresenta as maiores dificuldades para realização)

Principais ameaças: desagregação familiar, violência urbana, qualidade da educação, falta de desenvolvimento regional

Principais oportunidades: turismo, petróleo e gás, porto, proximidade entre os municípios