Nova diretora do Irmã Dulce coleciona títulos e desafios

Maria Alice esteve à frente do complexo de saúde de São Bernardo, hoje referência

Por Nádia Almeida | 1/9/2008

Desafios fazem parte da carreira da nova diretora técnica do Hospital Municipal Irmã Dulce, a médica Maria Alice Melo Rosa Tavares da Silva, vice-diretora e docente na Faculdade de Medicina do ABC (FMABC), mantida pela Fundação do ABC, gestora desde dia 1º de agosto. Na unidade praiagrandense, sua missão é conduzir um processo evolutivo de quatro anos, que começa com um novo paradigma no serviço e culminará com a transformação do Irmã Dulce em hospital-escola.

“A estrutura veio para ficar e fazer diferença”, afirma, com a convicção de quem alcançou vitórias em várias empreitadas na saúde, como implementar um serviço de referência em São Bernardo do Campo. “Fiquei encantada com o tamanho do hospital, o número de leitos e a capacidade de ocupação, que é grande. Está muito bem equipado. (...) Espero fazer um bom trabalho, com a colaboração de todos.”

Apesar das mudanças sentidas nas primeiras semanas, Maria Alice lembra que essa fase inicial exige compreensão por parte do usuário. “Gostaria que o cidadão acreditasse que viemos para somar, melhorar e fazer o que fazemos, já há alguns anos, na Fundação do ABC e na Faculdade de Medicina do ABC”, declara. “Acho que ele terá o que merece em termos de qualidade de atendimento técnico e espero que saiba esperar nesse período de transição. Vamos ter coisas a comemorar no final deste ano e nos próximos.”

Agradecendo a receptividade do Município e das pessoas envolvidas no hospital, a diretora afirma que a intenção é absorver ao máximo toda a mão-de-obra técnica do Irmã Dulce “Existem pessoas que trabalham há muito tempo no hospital, entregaram sua vida a ele e talvez seja a hora de serem valorizadas e abraçadas pelo nosso contexto. Temos muito respeito aos profissionais que aqui batalharam”, prossegue. “Esse hospital vai passar a ser atrativo para se trabalhar. Vamos ter muito orgulho em fazer a diferença para a população.”

Anos 70 - Entre múltiplas tarefas, Maria Alice continua residindo em São Paulo, onde mantém seu consultório particular. Com atuação marcada na região do grande ABC, ela diz que não conhecia Praia Grande e a imagem que guardava era da década de 70. “Vinha para Vila Caiçara quando namorava o meu marido, nos idos de 71, 72. Nunca imaginei que um dia viesse trabalhar aqui”, revela.

Aos 56 anos, com mais de três décadas dedicadas à saúde, Maria Alice agregou vários títulos ao seu currículo, como Doutorado em Emergências Clínicas pela USP, Mestrado em Endocrinologia pela Unifesp e Especialização em Cardiologia pelo Instituto Dante Pazzanese. Mas se destaca pela atuação na Fundação do ABC e Faculdade de Medicina, numa trajetória profissional que acompanhou a ascensão da própria entidade.

Sua dedicação lhe rendeu o título de Cidadã Paulistana recebido da Câmara Municipal de São Paulo por avanços na preservação da vida e do meio ambiente. “Hoje sou goiana de nascimento, paulistana de coração e agora meu coração também é praiagrandense.”

Natural de Goiânia, Maria Alice veio para a cidade de São Paulo aos quatro anos de idade. Em 1971, a estudante que ficou indecisa entre cursar Medicina ou Veterinária fez a primeira opção, por orientação do pai, e entrou na FMABC, em 1971. “Na época, chamava-se Fundação Universitária do ABC. Era um grande campo e um galpão lá em cima, um mato com lamaçal”, recorda.

Desde então, suas metas sempre estiveram alinhadas com saúde e educação. “Como missão interior”, observa. Após completar o curso superior de Medicina em 1976, durante a vida acadêmica passou por todas as representações discentes dos colegiados da faculdade. “Participei, como representante, de todas as tratativas com as prefeituras de Santo André, São Bernardo e São Caetano, que compunham a fundação.”

Sala de aula - Terminada graduação e residência médica, Maria Alice especializou-se em Cardiologia. “Em 1983, iniciei minha vida acadêmica como professora-auxiliar, ensinando clínica médica, e depois como professora contratada. De 1983 para cá, como docente, comecei a participar de todos os colegiados da FMABC: fui chefe do Departamento de Clínica, coordenadora da Comissão de Ensino, sempre dando aulas para o terceiro ano médico e tendo contato com o sexto ano da faculdade dos hospitais em que a fundação freqüentava”, prossegue.

Fez mestrado, de 1994 a 98. “Terminado isso, voltei a pleno vapor e fui recrutada para montar o Serviço de Clínica Médica em São Bernardo, que tinha acabado fazer parceira com a fundação. Implantamos o serviço do Hospital Municipal Universitário (HMU)”, relata. “Oito meses depois, o diretor clínico e técnico teve que se afastar e eu deixei a clínica médica e assumi a diretoria, começando a dirigir o HMU, nunca deixando de ser docente em sala de aula.”

Maria Alice conta que o HMU tinha ficado sem atividade durante quase 20 anos. “Com a ajuda de toda equipe, montamos um hospital de referência naquela região, especialmente nas áreas de gestação de alto risco e neonatologia de alta complexidade, com clínica médica forte também”, cita. Com uma força-tarefa, a fundação assumiu o pronto-socorro central. “Hoje funcionamos como um complexo hospitalar, o PS, o Hospital Anchieta e o HMU.”

De 2006 até o final de 2009, Maria Alice é vice-diretora da Faculdade de Medicina do ABC. “Também cuido do GEDES (Grupo de Estudos e Desenvolvimento de Educação em Saúde), que norteia toda a coordenação de cursos. Teremos 10 cursos compondo nossa futura universidade”, acrescenta.

Para ela, a Fundação do ABC descer a Serra para Praia Grande foi uma questão de tempo. “Aconteceu depois de estar madura, aos 40 anos”, avalia. “Eu brinco que a fundação e a faculdade agora são do ABC-PG. E parece que foi amor à primeira vista, acho que de todos os lados.”