Teatro receberá o nome de Serafim Gonzalez

Palácio das Artes, na entrada de Praia Grande, será inaugurado dia 11

Por Lorena Flosi | 2/9/2008

“Vocês estão me ouvindo daí? A acústica é maravilhosa”, exclamou Daniel Gonzalez, com os olhos marejados, ao caminhar pelo palco do teatro que receberá o nome de seu pai, o ator e escultor Serafim Gonzalez, falecido em abril de 2007. A ampla sala de espetáculos de 523 lugares, parte do complexo cultural Palácio das Artes, localizado na entrada de Praia Grande, impressionou Daniel, filho mais novo de Gonzalez. Emocionado com a homenagem, não poupou elogios ao sistema de iluminação e ao conforto para o público e os artistas que pisarão no palco de 180 metros quadrados.

“É uma emoção enorme, não só para mim, mas para toda a minha família”, comentou o também escultor. “Estou impressionado com a acústica e a modernidade do projeto. Quero, inclusive, parabenizar o arquiteto responsável, Luís Fernando Félix de Paula. Não é fácil projetar um teatro com qualidade. Esta sala está habilitada a trazer espetáculos de alto nível. Conheço teatros praticamente desde que nasci e vejo a tecnologia empregada aqui.”

Ao caminhar entre as fileiras de assentos, Daniel Gonzalez destacou a ligação do pai com Praia Grande: “Meu pai adorava o ateliê que montamos no Forte, na Rua Tiradentes. Muitos cenários e obras foram feitos ali. Ele tinha muito carinho por esse nosso reduto. Sempre elogiou o bairro e o trecho de Mata Atlântica que é parte da Cidade. Dizia que era inspirador. E agora ele ganha essa homenagem, um teatro em num lugar inspirador. A Cidade beijou o coração de nossa família.”

Com mais de 1.300 metros quadrados de área, a Sala Serafim Gonzalez é equipada com fosso para orquestra e acesso a deficientes físicos. Atrás do palco de nove metros de pé-direito, ficam os camarins e as docas. Acompanhando a tendência das salas atuais, o teatro caracteriza-se por ser um espaço de múltiplo uso, com telão e material completo de cenotecnia, iluminação e aparelhagem de som.

Daniel Gonzalez destacou ainda outro detalhe: o acesso direto ao palco para artistas deficientes físicos. “Isso mostra a preocupação social do projeto e nos enche de orgulho. Temos atores fantásticos, portadores de necessidades especiais, e o que parece um detalhe mostra o reconhecimento pelo trabalho de todos os artistas, portadores de deficiências ou não”.

Localizado em ponto estratégico, na entrada da Cidade, em frente a Praça A Tribuna, o Palácio das Artes será inaugurado no próximo dia 11 e já surge como um dos pólos culturais mais importantes e completos da região, reunindo, em um ambiente de 6 mil metros quadrados, galeria de artes, museu, biblioteca, loja, cafeteria e salas multimídia e de múltiplo uso.

Animado, o filho de Serafim Gonzalez destacou a importância do projeto não só para os moradores da região, mas também para os turistas que visitam a Região Metropolitana da Baixada Santista: “O teatro atende não só Praia Grande, Santos e São Vicente, mas também Mongaguá, Itanhaém e Peruíbe. O turismo ganha um diferencial fantástico. Quem passa por aqui ainda tem a opção de parar para visitar uma exposição, conhecer o museu da cidade ou simplesmente tomar um café em um ambiente agradável. Estou muito animado com o surgimento desse novo espaço”, completa.

Serafim Gonzalez - Serafim Gonzalez, ator e escultor, é filho de espanhóis. Nasceu em Sertãozinho, interior de São Paulo, mas, aos 5 anos de idade, a família se mudou para Santos. Seu contato com a arte começou cedo.

A primeira aparição artística ocorreu no programa dominical de rádio Dindinha Sinhá, em 1946. Aos 14 anos, em 1948, fez uma peça que estreou no teatro Coliseu, em Santos, reinaugurado recentemente. Aos 17 anos, estreou como ator profissional no Rio de Janeiro. Foi dirigido por Eugênio Kusnet, Ziembinsk, Antunes Filho, Flávio Rangel e outros grandes diretores.

Estreou como ator de novelas na década de 1960, com "O Pequeno Lord”, da extinta TV Tupi, interpretando um garoto pobre que no final da história revelou ser herdeiro de uma fortuna. A novela mais marcante de sua carreira foi "Mulheres de Areia", produção da qual participou duas vezes: em 1973 e em 1991. Na primeira, foi o responsável pelas cerca de 200 esculturas em areia feitas durante as gravações. Na segunda versão da novela, a Globo chamou vários escultores, mas as esculturas tinham de ser feitas com muita rapidez. O filho de Serafim, o artista plástico Daniel Gonzalez, foi chamado, pois fazia cada obra em 30 minutos.

Serafim Gonzalez passou pelas tevês Excelsior, Record, Tupi, TVE, Globo, Manchete e SBT e atuou e dirigiu várias peças de teatro. Outro trabalho de destaque foi a novela "A Viagem", que também ganhou uma nova versão em 1994.