Alunos aprendem a cultivar verduras na água

Hortas hidropônicas incentivam o consumo de vegetais nas escolas

Por Priscila Sellis | 11/9/2008

Estudantes do 6º ao 9º ano da Rede Municipal de Ensino de Praia Grande não convivem apenas com as disciplinas tradicionais, como matemática, português, história e geografia, em sala de aula. Também estão envolvidos no cultivo de plantas sem utilização do solo, em hortas hidropônicas.

“O projeto promove o relacionamento da criança com o meio ambiente e estimula o consumo de hortaliças, além de proporcionar o conhecimento sobre uma forma diferente de cultivo, na água”, afirma a educadora ambiental Cristiane Evaristo Nascimento, que acompanha e orienta as escolas.

De acordo com a Coordenadoria de Educação Ambiental (CEA), 14 unidades educacionais com alunos do 6º ao 9º ano já receberam os kits de hidroponia, compostos por bancadas com canaletas para a implantação das mudas, calhas, solução nutritiva e bomba para a distribuição dos nutrientes. Uma das primeiras unidades a se envolver com a idéia foi a escola Isabel Figueroa Bréfere, cujos alunos já aprovaram a idéia. “Eles acharam muito interessante a hidroponia; estão realmente envolvidos nos cuidados com a horta”, conta Cristiane.

Para a maioria dos estudantes, a técnica que dispensa o solo é uma novidade. “Todos estão acostumados com o plantio na terra. Quando vêem que é possível o cultivo na água, ficam surpresos!”, diz a educadora.

Seguindo o princípio da interdisciplinaridade praticado na rede de ensino municipal, os professores do ensino regular aproveitam o tema para trabalhar conceitos matemáticos, históricos, geográficos e químicos, dentre outros. “Na Matemática, eles calculam, por exemplo, a distribuição das sementes e a porcentagem de mudas que germinaram; na História, abordam o surgimento do cultivo sem solo (há registros datados de antes de Cristo); em Química, analisam quais substâncias compõem a solução nutritiva utilizada para alimentar as plantas hidropônicas e assim por diante”, exemplifica a especialista, que também sugere atividades junto aos professores nas reuniões de HTP (Horário de Trabalho Pedagógico).

Economia – De acordo com a equipe da Educação Ambiental, uma das grandes vantagens da hidroponia – por mais que pareça contraditório – é a economia de água, já que a técnica permite consumo 70% mais baixo dos recursos hídricos em relação ao cultivo tradicional. “A questão do racionamento da água foi um dos motivos que nos levaram à implantação das hortas hidropônicas. O sistema permite que a água circule e seja reutilizada várias vezes. Não há desperdício”, explica a bióloga e educadora ambiental Vandilma Silva Galindo. Segundo ela, as plantações convencionais exigem muita água. “A agricultura é responsável por 70% do consumo de água no mundo”, esclarece, comentando que a conscientização em relação ao assunto tem sido muito abordada aos estudantes da rede.

Outra vantagem é a praticidade de instalação, já que não exige muito espaço, nem grandes adaptações. “Basta ter um cantinho para a colocação da bancada”, diz Vandilma, esclarecendo que esse local tem de receber luz solar ao menos 4 horas por dia. “É muito prático também para apartamentos”.

Agrotóxicos – Um dos maiores benefícios da horta hidropônica é que ela não costuma ser atacada por pragas, devido à falta de contato com o solo. “Hoje em dia, o uso de agrotóxicos e pesticidas para conter infestações é cada vez maior e, consequentemente, preocupante. Infelizmente, muitos agricultores não têm consciência e exageram na utilização desses produtos, que, em excesso, são nocivos à saúde”, lamenta Vandilma, ressaltando que mesmo as hortas cultivadas no solo, nas escolas municipais, são orgânicas, ou seja, totalmente livre de defensivos químicos.

“Existem alternativas naturais para amenizar o problema dos bichos, sem recorrer a esses produtos. Procuramos ensinar aos alunos a importância de se ter uma alimentação saudável, de preferência sem agrotóxicos. Investimos nas crianças de hoje para que sejam cidadãos conscientes no futuro”. Segundo ela, manter uma horta em casa seria uma boa saída, já que no mercado, os produtos orgânicos ou hidropônicos não são acessíveis a todos, pelo custo elevado.

Além das escolas que implantaram hortas hidropônicas, as unidades de Educação Infantil e Período Integral cultivam hortaliças no solo, com orientação e acompanhamento dos profissionais da Educação Ambiental. Os alunos participam de todos os processos que envolvem a implantação da horta, desde a preparação da terra e semeadura ao acompanhamento da germinação e crescimento das plantas. Os produtos colhidos são saboreados na merenda. “O aumento no consumo de hortaliças é um dos resultados da implantação de hortas nas escolas, tanto convencionais como hidropônicas. A criança quer experimentar aquilo que ajudou a cuidar”, conta Vandilma. “Além disso, passam a valorizar aquele espaço da escola onde fica a plantação, que, muitas vezes, deixa de ser um cantinho abandonado para se transformar em um núcleo de vida”.