Palácio das Artes: soluções criativas e econômicas para um resultado grandioso

Do sistema de iluminação à estrutura física, a obra agrega economia e beleza

Por Lorena Flosi | 29/9/2008

Quem visita as instalações do Palácio das Artes, na entrada de Praia Grande, não fica indiferente à beleza e ao conforto do complexo cultural recém-inaugurado. O conjunto impressiona: o Museu da Cidade, a Sala de Espetáculos Serafim Gonzalez, a Galeria Nilton Zanotti, a bela escadaria, o lustre composto por 12 mil pedras de cristal, o terraço espaçoso. O que talvez o público não imagine é que o Palácio das Artes, produto da adoção de medidas criativas, ocupa uma edificação que já existia, gerando grande economia aos cofres municipais e parceiros que financiaram a obra.

“Ao conhecermos o prédio escolhido para abrigar o Palácio das Artes, percebemos que aquele seria um projeto muito mais de adaptação”, comenta o arquiteto e coordenador do projeto, Luis Fernando Felix de Paula. “Na estrutura, a prioridade foi manter o que já existia. Acrescentamos o que era imprescindível para o funcionamento do prédio, como mais banheiros e dispositivos de acessibilidade para deficientes físicos”.

Félix de Paula explica que o prédio já contava com piso de granito e grande parte do forro e sanitários montados. A cozinha do salão de eventos também já estava estruturada, e o sistema elétrico funcionando: “Quando iniciamos a reforma, já tínhamos 60% da obra concluída. A Prefeitura precisou investir mesmo na idealização e construção do teatro, porque essa é uma obra muito especifica”, conta.

O arquiteto explica que a Sala de Espetáculos Serafim Gonzalez foi onde a adaptação exigiu maior detalhamento: “Naquela área existia originalmente uma laje, que teve que ser demolida para que ganhássemos o espaço do pé direito duplo”. Ali também houve o maior empenho criativo para a redução de gastos: “Consultamos muitas empresas especializadas em acústica e todas diziam que, para conseguirmos o resultado que buscávamos, precisaríamos construir uma laje de concreto, que tem um custo muito alto. Pesquisando, descobrimos que o mesmo resultado poderia ser obtido usando forro em gesso acartonado e manta de lã de vidro. O resultado é excelente e o custo, por volta de 10% do valor da construção da laje”, comemora.

Galeria - A construção da Galeria de Artes Nilton Zanotti exigiu apenas a criação das paredes que delimitam o espaço. Nesse cômodo, a criatividade ficou por conta do sistema de iluminação: “A galeria segue padrões expositivos internacionais, que exigem especificidades, principalmente na área luminotécnica e de climatização. Era necessário ter o máximo de flexibilidade, para que cada artista pudesse compor livremente o modo de iluminação em suas obras”.

A solução encontrada mais uma vez foi simples e muito barata: a equipe de Projetos Especiais idealizou um sistema onde spots foram afixados em vários trilhos instalados no teto. “As lâmpadas também são econômicas, garantindo menor demanda de energia elétrica. Outra medida que gera economia é a disposição das estações de trabalho na área administrativa, onde funciona a sede da Secult. São estações com paredes baixas, em um espaço amplo. Como as janelas são maiores que o usual, é possível aproveitar a luz do dia, sem necessidade de iluminação artificial”.

A possibilidade de aproveitamento da luz natural existe em todos os cômodos, exceto na galeria de artes, que exige iluminação específica, adequada às exposições. No Museu da Cidade, a criatividade gerou um dos destaques do Palácio, os monóculos gigantes que apresentam imagens antigas de turistas: “Durante as conversas com a equipe do Patrimônio Histórico da Secult, responsável pelo projeto expositivo do museu, a maior preocupação foi com a valorização do acervo do Município”, conta o arquiteto. “A idéia dos monóculos gigante surgiu como uma forma de valorizar a cultura turística de décadas passadas.

A materialização da idéia foi muito simples e barata. Os monóculos nada mais são que placas de PVC expandido, revestidas com película adesiva”, conta o arquiteto.

Lustre – Os grandes centros culturais sempre trazem uma marca, que funciona como uma espécie de cartão de visitas. Como não se lembrar do Jardim das Esculturas quando nos referimos ao Museu de Arte Moderna de São Paulo ou da arquitetura em formato de olho da fachada do Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba? “Pensamos que o Palácio das Artes poderia ter um lustre que desse as boas vindas a quem chega”, conta a arquiteta Denise Junqueira. “Começamos a procurar um que correspondesse ao idealizado, mas a maioria era importada, com custo muito alto”.

Pesquisando, procurando alternativas aos altos preços da capital, Denise e Luis Fernando encontraram a solução muito mais próxima do que poderiam imaginar: “Para nossa surpresa, tivemos contato com um artista residente em Praia Grande. Desenhamos o lustre e ele executou por um terço do valor de um pronto. Mais do que um bom cartão de visitas, o lustre ganhou significado muito maior. Afinal, foi feito por um artista local”.

Adaptação - Denise conta que a escolha do estilo neoclássico para a fachada do prédio não teve como objetivo a criação de um efeito suntuoso, mas o recurso mais viável para se aproveitar os elementos construtivos que o prédio já possuía. “O edifício era composto por uma série de pilares, que chamaram nossa atenção para esse estilo. Além de ser uma proposta sem grandes arroubos arquitetônicos, é algo que remete ao teatro, aos museus europeus e edifícios antigos. Mas o que norteou essa escolha foi o aproveitamento do que já existia”, diz a arquiteta. “Simplesmente mantivemos todos os pilares e o pavimento superior, e afastamos a parede da fachada para dentro do prédio, ganhando o espaço do terraço”.

Segundo Denise, o trabalho de decoração da parte externa se resumiu à pintura projetada com jato de areia e aplique de concreto, uma solução muito mais econômica do que a tradicional pele de vidro ou revestimento cerâmico.

Já o telhado foi revisado, lavado e pintado de verde. A impressão é a de que ele é feito de concreto com pintura, mas na verdade é apenas uma película de fibra aplicada diretamente sobre a telha, complementada com elementos de concreto e fibra de vidro. Tudo foi adicionado à fachada já existente.

Números – A reforma do prédio que abriga o Palácio das Artes demorou cerca de um ano, envolvendo média de 60 profissionais, entre arquitetos, engenheiros, técnicos, além de operários das equipes da Secretaria de Serviços Urbanos (Sesurb).

Com reforma e mobiliário, foram investidos R$ 5 milhões. A maior parte deste montante veio através de parcerias com os bancos Santander, Caixa Econômica e Bradesco, além da Companhia Piratininga de Força e Luz (CPFL).

Mais do que ampliar o acesso da população a eventos culturais, o Palácio das Artes é um grande equipamento educacional através do programa SuperEscola, onde mais de 16.500 estudantes de escolas públicas e particulares do Município terão a oportunidade de realizar atividades como aulas de teatro, música, pintura e dança. no horário de contraturno escolar, além de freqüentar peças teatrais e exposições de arte gratuitamente.