Humanização contra o medo do desconhecido: o parto
29/10/2008

Por Nádia Almeida, jornalista
Se todas as emoções que gravitam sobre uma mulher prestes a dar à luz pudessem ser condensadas em apenas uma, esta seria o medo. Nos momentos que antecedem o parto, somos assaltadas pelo medo do desconhecido, da dor, de errarmos nas escolhas, dos riscos. Nesse turbilhão de sensações e pensamentos, a gestante precisa estar muito convicta de que o nascimento de uma criança deve ser natural (salvo raras exceções), que o corpo feminino desde sempre esteve preparado para esse acontecimento e que as vantagens em relação à cesárea são muitas. Para ter essa clareza, que transforma tensão em tranqüilidade, é preciso preparo e apoio, antídotos poderosos contra o medo.
A presença de enfermeiros-obstetras na maternidade do Hospital Municipal Irmã Dulce representa um significativo avanço na humanização do serviço. Além de tirar a sobrecarga dos médicos, que poderão se dedicar aos casos mais complicados que exigem procedimento cirúrgico, esses profissionais orientam e acolhem as parturientes, ajudando a reduzir a tensão que tanto prejudica o parto natural.
Quando entrevistei a enfermeira Janete de Carvalho Lopes, responsável pela equipe, e ela se emocionou ao relatar a experiência mais marcante de sua carreira, tive a certeza de que a iniciativa começou cheia de êxito. Essa impressão se confirmou com a notícia de que o índice de cesáreas no hospital caiu 10% em apenas um mês de atuação do grupo.
Num artigo ao jornal O Estado de São Paulo sobre a “epidemia” de partos cirúrgicos no Brasil, o presidente do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais (IEEI), Gilberto Dupas, afirma que “a medicina transformou o nascimento de uma criança de uma função fisiológica num evento fundamentalmente cirúrgico-hospitalar”. Em seu texto, ele defende uma mudança de postura médica e tece críticas ao aparato médico-hospitalar e seus interesses econômicos e de conforto. Na contramão desse apontamento, o Hospital Irmã Dulce caminha para a promoção da saúde de mães e filhos, viabilizando a implantação de iniciativas simples e muito eficazes, como o projeto Mãe-Canguru e o Banco de Leite Humano, consolidados em unidades administradas pela Fundação do ABC. Também estuda a melhor forma de garantir a presença do pai ou outro familiar escolhido pela paciente, prestando assistência no parto natural, dentro de ambiente e condições adequadas.
Acho que a questão do que Dupas chama de “epidemia de cesárea” passou de clínica a cultural, e não se pode depositar a culpa nos ombros da medicina. Basta observar que, na televisão e cinema, as cenas de parto natural são freqüentemente dramáticas, com forte apelo visual. Assim como, até poucas décadas atrás, a propaganda fazia do leite industrializado uma espécie de “máquina de fazer bebês rechonchudos e rosados”, houve a consolidação cultural da cesárea como uma forma rápida, cômoda e indolor de dar à luz.
Para popularizar a simplicidade dos partos normais, adotando o modelo de países como a Bélgica, é preciso uma estratégia integrada com a rede básica, e vale destacar que a direção do Irmã Dulce acenou positivamente em direção a isso, propondo futuras capacitações das equipes de Saúde da Família.
O trabalho de parto dura nove meses. Desde que a mulher se descobre grávida, ela deve ser informada não apenas sobre os exames e consultas necessárias, mas também quanto às transformações de seu corpo e como ele conduz o nascimento do bebê. Assim aprenderá a deixar a natureza agir, administrando a dor como parte de um mecanismo que só traz benefícios, segundo especialistas, como maior resistência respiratória ao recém-nascido, fortalecimento do vínculo afetivo e melhor recuperação para a mãe, entre outros.
Meus dois filhos nasceram em partos cirúrgicos. No primeiro, por recomendação médica, concordei com a cesárea, depois de quase 10 horas tentando o normal. No segundo, nem cogitei o normal porque acreditava no ditado “uma vez cortado, cortado para sempre”. E, confesso: em ambos tive muito medo dos riscos, reais e imaginários. Hoje questiono minhas decisões e lembro que o máximo de humanização que tive nos dois partos foi um “Tudo bem com você?” do médico e a mão quente de uma enfermeira segurando a minha por alguns segundos. Nada de aleitamento na primeira hora, nada de bebê sobre o peito. Só sons de instrumentos metálicos, o branco da sala e a rápida aparição do bebê, seguida de uma longa espera.
Sozinha, fragilizada e amedrontada, a gestante precisa de apoio na hora do parto, mas sua atitude depende também da formação que teve nos meses que antecedem esse momento. Somente a humanização do atendimento, desde o pré-natal, poderá reduzir o número de “desnecesáreas” no Brasil, reservando esse procedimento apenas para casos especiais, cumprindo sua real função: salvar vidas.
Se todas as emoções que gravitam sobre uma mulher prestes a dar à luz pudessem ser condensadas em apenas uma, esta seria o medo. Nos momentos que antecedem o parto, somos assaltadas pelo medo do desconhecido, da dor, de errarmos nas escolhas, dos riscos. Nesse turbilhão de sensações e pensamentos, a gestante precisa estar muito convicta de que o nascimento de uma criança deve ser natural (salvo raras exceções), que o corpo feminino desde sempre esteve preparado para esse acontecimento e que as vantagens em relação à cesárea são muitas. Para ter essa clareza, que transforma tensão em tranqüilidade, é preciso preparo e apoio, antídotos poderosos contra o medo.
A presença de enfermeiros-obstetras na maternidade do Hospital Municipal Irmã Dulce representa um significativo avanço na humanização do serviço. Além de tirar a sobrecarga dos médicos, que poderão se dedicar aos casos mais complicados que exigem procedimento cirúrgico, esses profissionais orientam e acolhem as parturientes, ajudando a reduzir a tensão que tanto prejudica o parto natural.
Quando entrevistei a enfermeira Janete de Carvalho Lopes, responsável pela equipe, e ela se emocionou ao relatar a experiência mais marcante de sua carreira, tive a certeza de que a iniciativa começou cheia de êxito. Essa impressão se confirmou com a notícia de que o índice de cesáreas no hospital caiu 10% em apenas um mês de atuação do grupo.
Num artigo ao jornal O Estado de São Paulo sobre a “epidemia” de partos cirúrgicos no Brasil, o presidente do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais (IEEI), Gilberto Dupas, afirma que “a medicina transformou o nascimento de uma criança de uma função fisiológica num evento fundamentalmente cirúrgico-hospitalar”. Em seu texto, ele defende uma mudança de postura médica e tece críticas ao aparato médico-hospitalar e seus interesses econômicos e de conforto. Na contramão desse apontamento, o Hospital Irmã Dulce caminha para a promoção da saúde de mães e filhos, viabilizando a implantação de iniciativas simples e muito eficazes, como o projeto Mãe-Canguru e o Banco de Leite Humano, consolidados em unidades administradas pela Fundação do ABC. Também estuda a melhor forma de garantir a presença do pai ou outro familiar escolhido pela paciente, prestando assistência no parto natural, dentro de ambiente e condições adequadas.
Acho que a questão do que Dupas chama de “epidemia de cesárea” passou de clínica a cultural, e não se pode depositar a culpa nos ombros da medicina. Basta observar que, na televisão e cinema, as cenas de parto natural são freqüentemente dramáticas, com forte apelo visual. Assim como, até poucas décadas atrás, a propaganda fazia do leite industrializado uma espécie de “máquina de fazer bebês rechonchudos e rosados”, houve a consolidação cultural da cesárea como uma forma rápida, cômoda e indolor de dar à luz.
Para popularizar a simplicidade dos partos normais, adotando o modelo de países como a Bélgica, é preciso uma estratégia integrada com a rede básica, e vale destacar que a direção do Irmã Dulce acenou positivamente em direção a isso, propondo futuras capacitações das equipes de Saúde da Família.
O trabalho de parto dura nove meses. Desde que a mulher se descobre grávida, ela deve ser informada não apenas sobre os exames e consultas necessárias, mas também quanto às transformações de seu corpo e como ele conduz o nascimento do bebê. Assim aprenderá a deixar a natureza agir, administrando a dor como parte de um mecanismo que só traz benefícios, segundo especialistas, como maior resistência respiratória ao recém-nascido, fortalecimento do vínculo afetivo e melhor recuperação para a mãe, entre outros.
Meus dois filhos nasceram em partos cirúrgicos. No primeiro, por recomendação médica, concordei com a cesárea, depois de quase 10 horas tentando o normal. No segundo, nem cogitei o normal porque acreditava no ditado “uma vez cortado, cortado para sempre”. E, confesso: em ambos tive muito medo dos riscos, reais e imaginários. Hoje questiono minhas decisões e lembro que o máximo de humanização que tive nos dois partos foi um “Tudo bem com você?” do médico e a mão quente de uma enfermeira segurando a minha por alguns segundos. Nada de aleitamento na primeira hora, nada de bebê sobre o peito. Só sons de instrumentos metálicos, o branco da sala e a rápida aparição do bebê, seguida de uma longa espera.
Sozinha, fragilizada e amedrontada, a gestante precisa de apoio na hora do parto, mas sua atitude depende também da formação que teve nos meses que antecedem esse momento. Somente a humanização do atendimento, desde o pré-natal, poderá reduzir o número de “desnecesáreas” no Brasil, reservando esse procedimento apenas para casos especiais, cumprindo sua real função: salvar vidas.