Em PG, idosos são tratados com carinho e respeito no Lar São Francisco de Assis

Por Alex Frutuoso | 5/8/2003

Quando se fala em asilo, a primeira imagem que vem à mente das pessoas é de um lugar triste, abandonado, onde alguns velhinhos ficam esquecidos, apenas aguardando pelo término de suas vidas. Por isso, quem entra no Lar São Francisco de Assis, mantido pela Secretaria de Promoção Social de Praia Grande desde 1994, na Vila Mirim, invariavelmente se surpreende.
Único asilo sob responsabilidade de uma prefeitura em toda a região, os 65 idosos (34 mulheres e 31 homens) que moram no local têm um atendimento de primeiro mundo. Eles são assistidos por 21 auxiliares de enfermagem, que se revezam em turnos com três profissionais, 24 horas por dia. O corpo de funcionários é composto também de uma enfermeira-chefe, quatro pessoas na cozinha, oito faxineiras, duas funcionárias na lavanderia, dois responsáveis pela limpeza do quintal e nove serviçais das frentes de trabalho em funções gerais. O lar conta também com um médico que faz visitas periódicas e também uma assistente social.
Para o diretor da unidade, Sílvio de Lima, toda essa estrutura faz parte da política da Administração Municipal de valorizar e respeitar as pessoas da terceira idade. “A secretária da Promoção Social, a primeira-dama de Praia Grande, Maria Del Carmen Padin Mourão, a Maruca, tem um carinho especial pelos velhinhos. Aqui não falta nada. O almoxarifado está cheio e o freezer também. Tudo o que eles pedem a Maruca atende”, explica. Vale destacar também que o Lar São Francisco de Assis recebe pessoas acamadas, ou seja, que ficam deitadas durante todo o dia. Mas o tratamento é tão bom, que algumas delas voltam a andar depois de algum tempo. É o caso de “dona” Elvira, de 84 anos, cunhada do primeiro médico e vereador de Praia Grande, dr. Pablo Trevisan. “Eu adoro esse lugar. Quando cheguei aqui, há dois anos, não conseguia andar. Agora já posso ir a qualquer lugar, ver os bichinhos no quintal”, relata.
Sílvio conta também que os moradores do lar são “mimados” e sempre têm seus “desejos” atendidos. “Quando eles querem comer alguma coisa diferente a gente faz. Quando dá vontade de feijoada, eles comem. Todo mês fazemos uma festa para os aniversariantes, com direito a salgadinhos, doces e bolo. Semanalmente eles saem para comer pizza. E mensalmente eles vão até um restaurante. Sem contar que todas as terças-feiras, uma empresária faz um lanche especial. Fora isso o grupo passeia, vai à missa, tem várias outras atividades”, conta o diretor.
Segundo Sílvio essas “outras atividades” incluem ginástica, aulas de corte e costura, e pintura. Para o diretor, fazer “as vontades” dos velhinhos tem um motivo especial. “Eu não sei se eles acordarão vivos amanhã. Nessa altura da vida, são poucos os prazeres que eles têm. Se eles morrerem, pelo menos terão sido felizes até o último momento”.
Sílvio, que é funcionário aposentado da Prefeitura de Praia Grande desde 1992, assumiu o lar em 93, ainda quando a entidade funcionava na Vila Caiçara. Com tantos anos à frente do local, o sentimento em relação aos idosos, todos sem família ou cujos parentes não têm condições financeiras de mantê-los ou ainda abandonados, não poderia ser outro a não ser o amor. “Eles são como se fossem da minha família. Gosto de todos. Acho que é por isso que o lar tem um ambiente tão feliz, com todos se dando bem”.

COMPANHEIROS – Além da convivência com os colegas do lar, os idosos têm um grupo de companheiros muito especial. No local há viveiros com pássaros, araras, periquitos, papagaios, patos, gansos, galinhas e até pavões. O mini zoológico tem também jabutis, um gato de uma interna e cinco cachorros. Algo bem de acordo com o nome do lar, São Francisco de Assis, o protetor dos animais.
O mais novo deles chegou na última quarta-feira, dia 23. “O cachorrinho, que ainda é filhote, estava passando em frente ao portão e a ‘dona’ Cesarina nos pediu para que o pegássemos para ela. Demos banho no bicho e ele ficou no colo dela o dia todo. Eles gostam muito de ficar com os bichinhos”, revela Sílvio.
Enquanto fazia carinho no novo companheiro, “dona” Cesarina Vicente da Silva, de 84 anos, e 12 de lar, não se cansava de elogiar a atendimento. “Graças a Deus temos de tudo aqui. A comida é muito boa, o quarto é bem arrumado e as pessoas cuidam da gente. Sou uma mulher muito feliz. Quem fala mal daqui é porque tem inveja”, disse a senhora, natural de Recife, Pernambuco, e que veio para a Baixada Santista há mais de 50 anos.

ESTRUTURA – Cada um dos idosos que mora no Lar São Francisco de Assis custa cerca de R$ 920,00 por mês. Dessa forma, o local tem gastos em torno de R$ 56 mil mensalmente, sendo que a Prefeitura arca com 93% do valor. O Governo do Estado repassa para a instituição apenas R$ 2.100,00 por mês. Tais números provam o investimento que é feito pela Administração em relação à terceira idade, tanto é que a lista de espera por uma vaga no lar já tem 390 pessoas. “Já há um projeto para ampliação do lar, o que permitiria que passássemos a atender mais idosos”, garante Sílvio.
Antes de passar para a responsabilidade do Poder Público, o Lar São Francisco de Assis era dirigido por pessoas ligadas ao Rotary. O local onde a entidade funciona foi cedido para abrigar os velhinhos por uma senhora, que depois se mudou para São Paulo. Sílvio conta como foi que o lugar passou a ser de posse definitiva do lar. “Esta senhora, a dona Joana, manteve um centro espírita aqui por vários anos. Quando ela foi para a Capital, cedeu o lugar para o lar. Em 2001, quando ela iria tomar posse novamente, viu nosso trabalho e resolveu doar o terreno e a casa. Foi uma atitude muito bonita, já que ela disse que estava no final da vida, com um câncer, e queria fazer o bem para o próximo. Além de nos dar o terreno, ela pediu para os parentes que doassem todos os seus órgãos. O fato de uma pessoa tão boa ter morado aqui talvez explique a razão do lar ser tão calmo e seus internos tão tranquilos”.