CARROCINHA-“Apreensão não é morte aos animais”, afirma veterinária

Por Antonio Cassimiro | 1/10/2004

A Divisão de Controle de Zoonoses da Secretaria de Saúde da Prefeitura de Praia Grande quer acabar com a má impressão que as “carrocinhas” transmitem à população quando animais de rua são apreendidos na cidade. Ciclos de palestras e postos de doações em feiras livres são procedimentos que objetivam reverter a avaliação distorcida sobre o trabalho realizado por funcionários do Serviço Municipal de Apreensão de Animais (Seman).
Alvos ocasionais de duras críticas, ameaças e até agressões, laçadores de animais enfrentam a incompreensão diária de munícipes, que vêem na função um ato cruel. “Esses funcionários não são apenas laçadores. Eles atuam como verdadeiros agentes de controle de zoonoses”, salienta a médica veterinária Mônica Oliveira Rossi, chefe da Divisão. Segundo ela, além da apreensão, os funcionários dão orientação sobre cuidados com os bichos de estimação e alertam para os problemas de permanência de animais na rua e até advertem as pessoas que levam seus cães para fazer suas necessidades fisiológicas na rua.
O estereótipo de “algoz” de animais de rua dos laçadores é despertado pela maneira impactante como se faz a apreensão, levando algumas pessoas à conclusão de que todo bicho recolhido é eutanasiado. “É um raciocínio equivocado porque o recurso da eutanásia só é utilizado em casos extremos, como de doenças graves, por exemplo. Quando recolhemos um animal, esperamos três dias até que seu dono o resgate. Somente depois desse prazo é que os submetemos a tratamento e castração para que possam ser doados”, disse a médica.
APREENSÃO - Por mês, são retirados cerca de 50 animais das ruas de Praia Grande, a maioria deles cães. Até a semana passada, o Seman tinha 16 cães adultos e oito filhotes para doação, além de quatro gatos. Com os postos montados em feiras livres, 18 cães e três gatos foram doados. Além de os receberem castrados, quem adquire os bichos nas feiras ganha uma coleira e uma corrente para conduzi-los.
Mas é o comportamento contraditório de muitos que costumam julgar mal o trabalho dos laçadores que incomoda a Divisão de Controle de Zoonoses. Acreditando estar agindo corretamente, algumas pessoas costumam cuidar de cães e gatos na rua, sem adotá-los. Foi o que aconteceu recentemente no próprio Paço Municipal, quando uma gata prenhe, preste a parir, foi recolhida pela carrocinha. Por ter se preocupado com o estado do animal e com o risco que ela corria de ser atropelada por carros no estacionamento, uma telefonista que viu a viatura fazer a apreensão foi criticada por servidores por ter permitido a ação. “Alguns colegas foram grosseiros e até passei mal. Antes, no fim do expediente, todos agradavam a gata como se isso fosse o bastante, mas ninguém queria levá-la para suas casas”, desabafou a funcionária, que prefere não se identificar.
Para melhorar o conceito do atendimento no setor, considerado um dos mais importantes da Secretaria de Saúde Pública (Sesap), o projeto “Posse Responsável” prevê a conscientização dos donos de animais de pequeno e grande porte, no Município. “Quem ama seus bichinhos deve tratá-los adequadamente. Quando um animal é maltratado ou abandonado pode morrer ou transmitir sérias doenças para outros bichos e para o homem”, destacou Mônica Rossi.
GATA - Entre os casos absurdos citados pela médica estão situações em que donos de animais procuram o setor para trocar seu cão por um de menor porte em razão do seu crescimento “inesperado” ou, ainda, casos em que pessoas mudam de suas casas e, por não querer levá-los consigo, os deixam morrer de fome ou os sacrificam pessoalmente. “Isso sim é crueldade. Se uma pessoa adota um bicho de estimação precisa conviver com ele por 10 anos, no mínimo”, complementou.
Quem quiser conhecer o trabalho da Seman ou adotar um animal, o endereço do setor é: Avenida Roberto de Almeida Vinhas, 3.893 – Vila Antártica. Sobre a gata recolhida na Prefeitura, o setor esclarece que a fêmea teve cinco belos filhotes, que poderão ser doados a quem se interessar, mas somente após o período de desmame, que é de dois meses. O telefone para mais informações é 3596-1882.