Panetones transformam Natal de carentes

Arrecadação será revertida aos projetos sociais da Sepros

Por Nádia Almeida | 6/12/2005

Os números surpreendem: 125 gemas de ovos e 125 quilos de farinha de trigo por dia. Acrescida de fermento biológico, água gelada, frutas cristalizadas e passas, a receita se transforma em panetones tradicionais na cozinha experimental da Secretaria de Promoção Social (Sepros). Em meio a batedeiras industriais e balanças, mulheres que estão longe de tanta fartura em seus lares colocam literalmente a mão na massa para produzir o pão doce natalino, que já está sendo vendido em postos instalados nas Lojas da Cidadania, Projeto Conviver e na sede da Sepros.

Dos recursos arrecadados com a venda dos panetones, uma parte converte para as 30 famílias que trabalham na produção. Todas são oriundas dos programas Renda Cidadã e Erradicação do Trabalho Infantil (Peti).

Segundo a responsável pela Divisão de Assistência Pública, Gisele Domingues, a meta é vender 10 mil unidades, a R$ 3,00 cada uma (pesando meio quilo). Em compras acima de 20, o preço unitário cai para R$ 2,50.

O trabalho é cooperativo, como explica a pedagoga do Peti, Cleuza Rocha Santos Mesquita. “Nós convidamos os participantes dos dois programas. Participam os que têm interesse”, declara. “Do Peti, são famílias de menores que trabalham de forma degradante, que recebem ajuda financeira para tirá-los dessa condição e já fazem cursos de geração de renda da Sepros. No Renda Cidadã, as famílias carentes também recebem bolsa mensal e fazem os mesmos cursos.”

Não há um curso para fazer o panetone – a orientação é do responsável pela cozinha, o padeiro Francisco de Oliveira Souza Júnior. Ele explica a receita, assiste as turmas (manhã e tarde) na produção e também põe a mão na massa. As mulheres são maioria.

Renda - Muitas de suas alunas são mães de vários filhos, residem em bairros carentes e estão desempregadas. Não raro sustentam seus lares sozinhas. É o caso de Vera Lúcia Domingues, mãe de 11 filhos, com idades entre 2 e 23 anos. Residente no Balneário Esmeralda, ela está inscrita no Renda Cidadã, fez cursos de chinelos e pintura em tecido, mas ainda não conseguiu ocupação. O dinheiro dos panetones, diz, vai ajudar a comprar alimentos para um fim de ano um pouco mais feliz.

Solteira, Gilda do Vale Nascimento reside no bairro Mirim e garimpava latinhas de alumínio para sustentar três filhos, de 5, 9 e 12 anos. Hoje está inscrita no Peti. No Programa de Integração e Cidadania (PIC) Vila Alice, conseguiu realizar sonhos antigos das crianças, que cursam teatro, balé e canto. “Se não fosse pela Prefeitura, nunca conseguiria”, acrescenta. Os panetones da Sepros vão ajudá-la a dar um Natal melhor à família.

O mesmo acontecerá com Marinalva Rosa da Silva, do Jardim Real, mãe de sete filhos e desempregada. “Não imaginei que fosse tão fácil aprender. Poderei fazer em casa, para minha família, e também vender para os vizinhos”, comenta. “É muito bom. Agradeço a todos daqui pela oportunidade.”

História de amor - A origem do panetone é controversa, mas a versão mais conhecida remonta a Milão (Itália) do século 15. Apaixonado pela filha de um padeiro chamado Toni, um jovem resolveu trabalhar no seu comércio para ficar mais perto da amada. Como o pai não aceitava o namoro, o rapaz resolveu criar um pão doce especial, maior que os demais e com a forma de cúpula de uma igreja, que logo teria virado o destaque da padaria do Toni, daí o nome.

Com o tempo, a cidade de Milão sofisticou a receita. É apontada como a irradiadora da tradição do consumo nas festas de fim de ano. O aumento do consumo induziu variações à receita tradicional, como o chocotone, com gotas de chocolate no lugar das frutas.

Rico em carboidratos, o panetone é um alimento que fornece energia ao organismo. Além de delicioso, é uma forma diferente de presentear e, se for da Sepros, ajudar na manutenção de programas sociais.

Os pontos de venda são: lojas da Cidadania (das 9 às 16 horas), no saguão do Paço Municipal (Avenida Presidente Kennedy, 9.000, Mirim) e no calçadão da Praia do Guilhermina, na Avenida Castelo Branco, em frente à feira de artesanato; sede da Sepros (das 8 às 17 horas), na Rua Paulo Fefin, 775, Boqueirão; e Conviver (das 8 às 17 horas), na Rua Praia dos Sonhos, 245, Guilhermina.