Taekwondo de PG celebra a presença na Paralimpíada 2020

Nathan Torquato tem 19 anos e reside no Bairro Boqueirão

12/3/2020

Classificado para o torneio de taekwondo na Paralimpíada de Tóquio, o paratleta Nathan César Sodário Torquato, de 19 anos, acompanhado da mãe, da irmã e dos avós, desembarcou na manhã desta quarta-feira (12), em Praia Grande, após retornar da Costa Rica. Lá, disputou e venceu o torneio qualificatório das Américas, na categoria k44 (deficiência nos membros superiores), no peso até 61 quilos.

Nathan conquistou um resultado inédito e histórico para o esporte de Praia Grande. Pela primeira vez, a Cidade terá um representante no torneio de taekwondo da Paralimpíada. O feito é ainda mais especial por que no Japão será a primeira vez que o taekwondo integra o programa paralímpico e ele é o único homem brasileiro classificado. A disputa ocorre nos dias 3 a 5 de setembro. Vale destacar que o jovem de Praia Grande integra a seleção brasileira há cinco anos.

O paratleta é natural de Praia Grande e reside no Bairro Boqueirão. Sofre de uma dismelia de nascença no braço esquerda. Iniciou na modalidade aos 3 anos. Atualmente, treina com o técnico Rodney Saraiva, em Santos. Em 2019, trancou o curso da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Paulista (UNIP). Entre os diversos títulos (muitos internacionais) da carreira, sagrou-se campeão mundial pela União Internacional de Artes Marciais da América (UIAMA), dos Jogos ParaPan-Americanos (em 2019, no Peru), do África Open (em 2019, no Egito), do Estados Unidos Open (em 2019, em Las Vegas), brasileiro, paulista, da Copa São Paulo, do open Cidade Maravilhosa/Rio de Janeiro, e do Brazil Games. Foi medalha de bronze no Oceania Open (em 2019, na Austrália).

Entrevista – O site PG Notícias entrevistou Nathan após a conquista histórica da vaga para a Paralimpíada de 2020. Confira o bate-papo:

PG Notícias – Você começou a praticar taekwondo aos 3 anos. E 16 anos depois, alcançou o objetivo de disputar uma Paraolimpíada. Como você analisa a própria trajetória no esporte?

“Tenho muito orgulho e satisfação com o meu percurso no taekwondo. Acho que felicidade é a melhor palavra para descrever o que sinto. Por que apesar de ter uma carreira muito longa, eu ainda sou novo, tenho apenas 19 anos e já consegui uma vaga olímpica. Essa conquista demonstra que todo o meu esforço valeu a pena, que toda a dedicação rendeu frutos ao meu trabalho. E, tenho certeza, que é só o começo”.

PG Notícias – É a primeira vez que o torneio de taekwondo será disputado em uma Paralimpíada e você é o único homem brasileiro classificado. Ou seja, você escreveu um capítulo na história do esporte nacional. Como você analisa esse momento que está vivendo?

“Sem dúvida, fico envaidecido por que é um marco na história. Na estreia do taekwondo em Paralimpíada, eu estarei lá representando o meu país. Ainda que seja uma pequena parte da história, fico extremamente feliz em escreve-la. Todo atleta sonha em participar desta competição por que ela reúne os melhores do mundo. E eu estarei entre eles. É uma honra, uma conquista enorme para uma criança que desde os 3 anos ama o esporte”.

PG Notícias – A categoria K44 não tinha representatividade internacional. Em 2014, você obteve classificação e viajou para o Azerbaijão para disputar o Campeonato Mundial Olímpico. A Federação Mundial de Taekwondo (WTF) vetou a sua participação no evento alegando preservação da integridade física. A partir daí, a WTF pressionou entidades paralímpicas e passou a dar maior importância a categoria. Isso demonstra que ao longo da carreira, você venceu lutas dentro e fora do tatame?

“Sem dúvida. A categoria existia, mas não tinha sistema de pontuação, nem ranking internacional, por exemplo. Fico satisfeito em ver que aquela situação que foi desagradável para mim naquele momento, ajudou a mudar um pouco a visão sobre o esporte. Eu nasci com a minha deficiência, então ela não influencia negativamente na minha aptidão esportiva e é assim com a maioria dos atletas. É algo natural que a gente lute e treine normalmente com atletas olímpico, de igual para igual. Mas, hoje, vários atletas do mundo inteiro lutam na k44, vivem para isso e elevaram muito o nível das competições. Cada vez a categoria cresce mais e se iguala as demais da modalidade”.

PG Notícias – Atualmente, você é o quinto colocado do ranking mundial de parataekwondo, categoria k44, peso até 61 kg. Logo, chega a Paralimpíada como um dos favoritos ao título?

“Com certeza. Desde 2019, tenho disputado o Circuito Internacional e cada vez mais venho subindo no ranking. Inclusive, em alguns combates, já consegui vencer os quatro atletas mais bem colocados no ranking mundial. Então sim, vou para Tóquio para brigar por medalha, não apenas para participar. É o meu primeiro ciclo olímpico. Se me mantiver em boa forma, posso lutar em mais uns três ciclos ainda. Mas, já quero subir no pódio agora e sempre me manter entre os melhores do mundo”.

PG Notícias – Como é a rotina de treinos?

“Puxada. Treino, treino e mais treino; de manhã, tarde e noite. Principalmente agora, com essa vaga olímpica, vou trabalhar ainda mais forte e intenso. Tenho alguns meses de preparação e quero focar muito, me concentrar exclusivamente em melhorar a parte física e técnica. Atualmente, treino com o mestre Rodney Saraiva, em Santos. Ele me ajudou a evoluir muito. Tenho um carinho especial por todos os mestres com as quais treinei, como o Daniel Ravazzani, Henrique Manaroulas e o Ronni Silva. Mas tenho um carinho especial pelo mestre Jackson de Oliveira por que foi ele que desenvolveu meu lado competitivo, criou meu DNA de lutador, me fez entender a filosofia e os princípios do taekwondo. Uma pessoa que sempre acreditou em mim e me levou para as competições; um dos melhores amigos que o esporte me deu. Atualmente, treino com o mestre Rodney Saraiva. Uma figura especial e um dos melhores do Brasil”.

PG Notícias – Você tem uma rotina constante de treinamentos intensivos. Musculação, preparações aeróbicas e técnicas. É possível conciliar o esporte com o dia a dia cotidiano?

“É complicado. O esporte é amador, mas o atleta tem de ser profissional. A gente abre mão de algumas coisas, sem dúvida. Creio que faz parte da minha escolha de vida. Ano passado, eu tranquei a faculdade de Arquitetura após cursar o primeiro semestre por que eu precisava me dedicar mais aos treinamentos deste ciclo olímpico. Viajo bastante também para participar das competições. Mas, eu tento sim conciliar o esporte com um dia a dia mais regular. Hoje, com essa classificação para a Paralimpíada, colho fruto com o qual sempre sonhei; então, tem valido a pena toda a minha dedicação e esforço. Contudo, tenho consciência de que o auge do esporte é passageiro e não posso abandonar os estudos; preciso pensar e investir no meu futuro”.

PG Notícias – Qual a tua expectativa para a Paralimpíada de Tóquio, no Japão?

“A ficha ainda não caiu totalmente que estarei lutando por um título olímpico. Cheguei hoje da Costa Rica e aos poucos estou assimilando o tamanho da minha conquista e de quanta responsabilidade isso gera. Mas, tenho uma expectativa imensa, uma sensação inexplicável de estar entre os melhores do mundo e com chance de conquistar um pódio olímpico. Agora só consigo pensar em quanto trabalho tenho que realizar para chegar bem fisicamente e tecnicamente no Japão. Trabalho, dedicação e esforço é que passa na minha cabeça agora”.

PG Notícias – Você tem algum receio de que a pandemia do COVID-19 posso adiar o início da Paralimpíada?

“Não tenho pensado muito nisso. O Comitê Paralímpico Internacional tem pedido para que os paratletas não se preocupem com esta situação por que a entidade está trabalhando para resolver esta situação e realizar uma competição segura. Acho que todos os governos do mundo estão focados nisso. Então, todos os atletas estão treinando normalmente e esperando lutar na Paralimpíada. Tomara que dê tudo certo”.

PG Notícias – Você conta com apoio financeiro e estrutural para se dedicar ao esporte?

“Sim, graças a Deus. Devido aos resultados que tenho obtido eu recebo Bolsa Pódio, benefício concedido pelo Governo Federal e o Comitê Paralímpico Brasileiro. Também recebo apoio do Time São Paulo Paraolímpico e da Fundação Pró-Esporte de Santos. E conto com bolsa de estudo universitária da Universidade Paulista, a UNIP. Na parte estrutural, a Confederação Brasileira de Taekwondo e o Comitê Paralímpico Brasileiro tem desenvolvido um trabalho espetacular, me dando todo o suporte necessário, me ajudado muito e auxiliado o paradesporto nacional a crescer”.

PG Notícias – Qual o papel da Prefeitura de Praia Grande na sua carreira?

“É uma parceira. Estudei todo o Ensino Fundamental e Médio no Colégio Objetivo de Praia Grande com bolsa integral municipal de estudo esportiva. Isso me ajudou muito, sem dúvida. Foi um grande incentivo para seguir meu sonho olímpico. Até hoje, a Secretaria de Esporte e Lazer me leva e busca em muitas competições, em aeroportos e viagens. O poder público de Praia Grande tem sim um papel importante na minha vida esportiva e educacional”.

PG Notícias – Qual a importância da família na sua vida esportiva?

“Fundamental. Desde os 3 anos, minha mãe e meus avós me deixaram praticar o esporte, me levavam para treinar, sempre me apoiaram e acreditaram em mim. Não teria de forma alguma chegado onde cheguei sem a presença e a participação deles. Eles são os responsáveis pelas minhas conquistas no esporte. Hoje, graças a Deus, estou colhendo frutos positivos das minhas batalhas. Mas, muitas vezes, caí, chorei e me machuquei. E eles estavam lá, me dando suporte incondicional, me ajudando e motivando”.

PG Notícias – Por fim, qual mensagem você daria para aqueles que estão iniciando no esporte.

“Nunca desista daquilo que você ama fazer. Se você é apaixonado pelo que faz então de seu máximo, sempre. O esporte competitivo é algo que exige entrega, física, psicológica, espiritual; há necessidade de entrega total, de ir até o final do caminho. Não há limite para o que a pessoa acredita que pode alcançar, depende exclusivamente dela, dos esforços dela. Bota um foco na cabeça e corre atrás, realize seus sonhos”.