Criando Asas: autonomia e respeito para crianças especiais

Brinquedos auxiliam no desenvolvimento das crianças

Por Ana Flávia Scarelli | 7/11/2006

Bola, boneca, quebra-cabeça, fantoche, instrumento musical, papel e tinta. Para a maioria das crianças, diversão. Para as 132 crianças portadoras de necessidades especiais de Praia Grande, estímulo e autonomia. Esta é a proposta do projeto “Criando Asas”, realizado em brinquedotecas de escolas municipais de Praia Grande.

Iniciado em maio de 2002, o projeto, resultado de parceria entre as secretarias de Educação (Seduc) e Promoção Social (Sepros), atende crianças especiais de até seis anos e suas famílias. A intenção é estimular os pequenos por intermédio de brincadeiras, o mais precocemente possível, sempre focando na perspectiva da inclusão social.

Desenvolvimento – A criança que participa do Criando Asas fica um período médio de duas horas na brinquedoteca. Lá, é estimulada na área que mais precisa, sempre utilizando um brinquedo ou material lúdico que chame sua atenção.

A pedagoga e brinquedista da Escola Municipal Oswaldo Justo, Ana Carolina Correia Costa, explica que os horários são agendados. “Temos integração, conversa e brincadeiras. Cada brinquedo tem uma função ideal para cada caso. Alguns precisam desenvolver a coordenação motora; outros, a memória, a concentração, e até a parte física. Trabalhamos com crianças portadoras de paralisia cerebral, autismo e outras necessidades especiais. Precisamos superar, dentro de cada deficiência, aquilo que é difícil trabalhar em casa. Aqui eles superam usando o brinquedo. Não há melhor estímulo que brincar”, conta Carol, como é chamada pela criançada.

A brinquedista afirma que as crianças podem levar os objetos para casa. “Enquanto estiver sendo usado para seu desenvolvimento, a criança pode levar emprestado. Isso é ótimo, pois a maioria não dispõe de recursos financeiros para adquirir todos os brinquedos oferecidos na brinquedoteca”.

Força – E se o Criando Asas consegue atingir seus objetivos com a criança, com os pais, não é diferente. “O projeto trabalha também a socialização, a inclusão. Isso é estendido aos pais. Algumas mães têm vergonha, acabam escondendo os filhos ou não têm condições de participar de projeto fora de casa, junto deles. Aqui, eles podem”.

Ana Carolina comentou que os pais chegam de uma maneira e saem do projeto totalmente transformados, mais fortes para lidar com a situação do filho. “Como eles convivem apenas com seu filho, não têm idéia de quantas pessoas estão na mesma situação. Na brinquedoteca, eles criam vínculos com outros pais, trocam experiências. Um acaba dando força para o outro. Nós orientamos ainda em relação aos direitos da criança e aos serviços que o Município disponibiliza, como o passe livre, a inclusão escolar, fonoaudiologia, fisioterapia e psicologia. Este é o primeiro tratamento deles”.

Aprovação –Yolanda Vieira, avó de Sarah, de três anos, conta que o projeto foi fundamental para a garota, portadora de paralisia do lado direito do corpo. “Sarah usa duas órteses. Hoje faz fonoaudiologia, terapia ocupacional e tem sessões com psicólogos. Mas o Criando Asas deu início a tudo. Ela desenvolveu muito. Deixou de ser tão tímida. Tanto que começou a falar aqui, com três anos. Foi realmente essencial para a vida dela”.

Quem também leva sua filha todas as terças-feiras à brinquedoteca da escola Oswaldo Justo é Esmeralda Oliveira Bonfim. Ela não poupa elogios ao programa. Mãe de mãe de Giselle, portadora de paralisia cerebral, conta que a menina, hoje com cinco anos, antes vivia isolada, sozinha. “Agora está enturmada. Adora as atividades e aprendeu a dividir o espaço e os objetos”.

Rosangela Santos, mãe de Caio, com pouco mais de um ano e deficiente visual, contou que ele já toca nos objetos com mais atenção. “Ele se desenvolveu rapidamente”.

O mesmo progresso foi confirmado por Lidiane Oliveira, mãe de Willian, de três anos, que tem limitação no uso de um dos braços. Em duas semanas freqüentando a brinquedoteca, ele já faz movimentos. “Antes era muito difícil ele usar o braço. Agora, quando vê um brinquedo que gosta, acaba usando o braço. Aqui há brinquedos que ele não tem em casa”.

Mas quem aprova na verdade mesmo é pequena Fernanda dos Santos, de seis anos, deficiente auditiva, que na data da reportagem confessou para a brinquedista: “Não quero crescer pra não sair da brinquedoteca”.

Estrutura – Para ser brinquedista é preciso ser habilitada pela Fundação Abrinq. Ana Carolina e mais duas profissionais ludo-educadoras, Heide Lindinalva da Silva e Sigrid Caroline Vieira da Silva, foram capacitadas no curso de 80 horas e anualmente passam por atualizações na instituição.

Todas as sextas-feiras, elas se reúnem com a equipe técnica da Seduc. “Aí é a nossa vez de trocar experiências. Lá contamos com o apoio da Divisão de Educação Especial, que coordena o projeto. Levamos casos novos e nos desafiamos a vencer os obstáculos. Tudo com muita força e muito amor”.

A chefe da Divisão de Educação Especial da Seduc, Márcia Nascimento de Faria, afirma que o estímulo às crianças especiais com a utilização de brinquedos e materiais lúdicos, tem como base a máxima de que toda criança portadora de necessidade especial pode desenvolver o seu potencial, se houver estimulação adequada ao nível de desenvolvimento dela e às suas necessidades.

“A atenção integral à criança com deficiência prioriza o seu bem estar físico, psíquico e social. A estimulação adequada e precoce melhora o desenvolvimento neuropsicomotor”, afirma a técnica, contando que a família também se sente amparada. “Todos se sentem respeitados e, principalmente, inseridos no contexto social.”

Escolas – As brinquedotecas que desenvolvem o Criando Asas estão montadas nas escolas municipais Estado do Amazonas, Dorivaldo Francisco Loria, Estina Campi Baptista, Juliana Arias de Oliveira, Professora Maria Clotilde Comitre Rigo, Ophélia Caccetari Reis e Oswaldo Justo.

A Divisão de Educação Especial fica na sede da Secretaria de Educação, na Rua José Borges Neto, 50, Bairro Mirim. Informações pelo telefone 3496-2350.