Aids: combate requer participação da mídia e da sociedade
Por Antonio Cassimiro | 11/12/2006

Há cerca de 10 anos, em Praia Grande, dois homens tiveram, simultaneamente, relações sexuais com uma mulher que carregava em sua bolsa exames que atestavam que ela era portadora do vírus HIV. Apesar de a ocorrência ter sido registrada na delegacia de Vila Tupi, o fato não ocupou grande espaço na mídia e até hoje não se sabe qual foi o resultado daquela perigosa aventura vivida pelos homens que, pelo que se soube na ocasião, tinham esposas e filhos.
Embora sejam cada vez mais intensas as campanhas de divulgação sobre o crescimento do índice de contaminação pelo vírus HIV, muitos ainda praticam sexo inseguro, incorrendo também em outras condutas inadequadas. A imprudência muitas vezes é cometida por quem desconhece as estatísticas. Mas ainda há outras reflexões a serem consideradas para que o combate a esse mal seja mais efetivo.
Segundo dados do Centro de Testagem, Aconselhamento e Prevenção de Praia Grande (CTAP), de Praia Grande, as mulheres são as que cada vez mais contraem a doença.
De 1998 a julho deste ano foram notificados 988 casos de pessoas portadoras do HIV em Praia Grande. Na análise das notificações de 1995 a 2005, foi considerável o crescimento da doença entre o público feminino. De 1995 a 99, foram registrados 363 casos, sendo que 125 dos portadores eram mulheres (34,43%). Nos cinco anos seguintes ocorreram mais 366 notificações, sendo que destes, 160, ou 43,7%, eram mulheres. Em comparação com os cinco anos anteriores, se constatou um aumento de 26,92%.
“Nos anos 80, quando começou a epidemia de aids, para cada mulher infectada existiam dez homens. Hoje, é um homem para cada mulher infectada”, afirma a coordenadora municipal de DST/Aids/Hepatites, Renata Cisneiros Felsch.
A contaminação entre o público da terceira idade também preocupa os especialistas. Já os que fazem parte dos chamados grupos de risco ou vulneráveis (prostitutas, homossexuais e usuários de drogas injetáveis) tiveram uma presença menor em pesquisas recentes sobre o crescimento da Aids no Brasil.
Mudanças na estratégia das campanhas de conscientização vêm sendo defendidas por representantes de organizações não-governamentais, que ressaltam a precariedade de atenção a essas estatísticas. Reivindicam-se, ainda, novas e eficientes políticas públicas de educação e de informação aos doentes e não-doentes.
Uma crítica comum é a inexistência de ações visando a inclusão social e o respeito a classes como o denominado grupo GLBTT (Gays, Lésbicas, Bissexuais, Transexuais e Travestis). “A mídia e as campanhas nunca abrangem todos os grupos, o que indica deficiência na conscientização”, afirmou Beto Volpe, representante da ONG Hipupiara, com sede em São Vicente.
Repudia-se também a associação da aids ao homossexualismo. Para o representante do Centro Convivência Joana D’Arc, de Guarujá, Luiz Eduardo dos Santos, a forma como o homossexual é mencionado na mídia, inclusive, deveria ser diferente. Segundo ele, a palavra “gay” muitas vezes é expressa de forma imprópria, em tons machistas.
“É preciso desconstruir os significados que as pessoas têm para definir o que é ser homem e o que é ser mulher, pois antes de serem homo ou heterossexual, as pessoas têm sua essência, seu gênero: masculino ou feminino”, comentou Santos.
A falta de informação para pessoas soropositivas sobre as possibilidades da co-infecção, com a contração da hepatite B ou C, é outro problema. De acordo com o Grupo Esperança, ONG que funciona em Santos, a demora no diagnóstico dos dois tipos da doença no portador do HIV é responsável pela morte de 50% dos soropositivos. “Hoje 40% dos soropositivos são infectados pelos vírus da Hepatite B ou C. Desses, 90% não sabem que têm a doença”, alerta o presidente da instituição, Jeová Pessin Fragoso.
“Quando uma pessoa infectada descobre que contraiu hepatite, especialmente a mais grave, tipo C, a doença já evoluiu para estágios fatais, como cirrose e falência hepática”, disse Fragoso. A solução, segundo ele, seria a intensificação das campanhas informativas dirigidas ao soropositivo, abordando a necessidade de exames específicos para detecção da hepatite.
Milhão - No Brasil, 371 mil pessoas vivem com o vírus HIV, mas o Ministério da Saúde estima que outras 742 mil sejam portadoras da doença e não sabem exatamente por não terem consciência de que passaram por uma situação de risco.
De janeiro a outubro deste ano, o CTAP de Praia Grande realizou 26,9% testes sangüíneos a mais em relação ao mesmo período, em 2005. Nos primeiros dez meses do ano passado, o CTAP promoveu 2.299 testagens para detecção do vírus HIV. Neste ano, foram 619 testes a mais, somando 2.918. Desde que entrou em funcionamento na Cidade - 19 de fevereiro de 1998 - até outubro último, o CTAP já realizou 28.072 testes.
O órgão também intensificou as atividades de conscientização. De janeiro a dezembro deste ano, durante palestras e dinâmicas, 23.775 pessoas receberam folhetos educativos ou informações diretamente dos agentes. O número é 38,9% superior ao mesmo período do ano passado: 6.663 pessoas a mais - quase o equivalente à população do bairro Caiçara.
“O grande número de testes reflete a maior quantidade de pessoas atingidas pela campanha permanente. Ampliamos tanto as atividades voltadas ao público em geral como também para as comunidades mais vulneráveis à epidemia”, destaca a coordenadora municipal de DST/Aids/Hepatites. “O fato de a equipe trabalhar há mais tempo junta, participando de várias capacitações, também colabora com o melhor resultado”, ressalta Renata Felsch.
O sucesso do trabalho do CTAP está na descentralização parcial das atividades de testagem. Uma das práticas da equipe, quando realiza dinâmicas de conscientização, é a distribuição de guias para a coleta de sangue na unidade. “Contamos com uma demanda provocada”, diz Renata. A coordenação conta com parcerias com as Unidades de Saúde da Família para a conscientização sobre DSTs, aids e hepatites e também junto a atendidos por programas das secretarias de Educação e Promoção Social.
Durante o pré-natal, os médicos generalistas e ginecologistas-obstétricos de Praia Grande também solicitam exame para a detecção de aids, sífilis e hepatite. “Cabe à mulher decidir se quer fazer ou não. O protocolo que estabelece esta política quase zera o número de bebês infectados”, afirma Renata.
Aids - A síndrome da imunodeficiência adquirida é desenvolvida no corpo humano após a infecção pelo vírus HIV (vírus da imunodeficiência humana, em inglês human immuno-deficiency virus). A doença, transmitida através de qualquer contato com sangue, ataca o sistema imunológico, que nada pode fazer para destruir o vírus.
Contra a doença existem medicamentos que dificultam a multiplicação do HIV. A combinação de remédios, conhecida como coquetel, adia os sintomas da doença. O maior problema no tratamento é a sua alta capacidade de mutação, na relação entre medicamento e doença. Os coquetéis costumam causar perda de gorduras em partes do corpo (como a queda das maçãs do rosto) e acúmulo em outras.
Quando a doença chegou ao País, os sintomas comuns eram vômitos e diarréias constantes. Com o passar dos anos, a doença adquiriu outras características e mais conseqüências foram observadas, como manchas na pele, por exemplo.
Além dos efeitos inesperados e destruidores, existe também o surgimento de novos tipos do vírus, a partir da “re-infecção”, combinando-se um vírus com outro, tornando complicada a identificação e atrasando o processo de descoberta para a cura. Existe também o índice de tuberculose e principalmente hepatite C, que co-atuando com o HIV torna a sobrevida de um soropositivo um desafio a cada dia.
Serviço - Só é possível identificar a contaminação pelo vírus em um tempo que varia de três a seis meses após a infecção, o que é conhecido por janela imunológica. “As pessoas procuram o serviço geralmente após passarem por uma situação de risco e esquecem da janela”, comenta Renata.
Todos têm direito de realizar os testes gratuitamente em qualquer período do ano. Para isso, basta ir até o CTAP às 9 horas, de segunda a sexta-feira, quando ocorre palestra explicando principalmente a questão da janela imunológica e a necessidade de solidariedade com os soropositivos.
Qualquer grupo interessado em receber palestra sobre DSTs, aids e hepatites pode entrar em contato com o CTAP, que conta com equipe de agentes multiplicadores de informação e monitores. O centro funciona junto à Coordenação Municipal de DST/Aids/Hepatites, na Avenida Presidente Kennedy, 2.030, bairro Guilhermina, telefone 3473-3351.
*Com colaboração de Eli Vieira
Embora sejam cada vez mais intensas as campanhas de divulgação sobre o crescimento do índice de contaminação pelo vírus HIV, muitos ainda praticam sexo inseguro, incorrendo também em outras condutas inadequadas. A imprudência muitas vezes é cometida por quem desconhece as estatísticas. Mas ainda há outras reflexões a serem consideradas para que o combate a esse mal seja mais efetivo.
Segundo dados do Centro de Testagem, Aconselhamento e Prevenção de Praia Grande (CTAP), de Praia Grande, as mulheres são as que cada vez mais contraem a doença.
De 1998 a julho deste ano foram notificados 988 casos de pessoas portadoras do HIV em Praia Grande. Na análise das notificações de 1995 a 2005, foi considerável o crescimento da doença entre o público feminino. De 1995 a 99, foram registrados 363 casos, sendo que 125 dos portadores eram mulheres (34,43%). Nos cinco anos seguintes ocorreram mais 366 notificações, sendo que destes, 160, ou 43,7%, eram mulheres. Em comparação com os cinco anos anteriores, se constatou um aumento de 26,92%.
“Nos anos 80, quando começou a epidemia de aids, para cada mulher infectada existiam dez homens. Hoje, é um homem para cada mulher infectada”, afirma a coordenadora municipal de DST/Aids/Hepatites, Renata Cisneiros Felsch.
A contaminação entre o público da terceira idade também preocupa os especialistas. Já os que fazem parte dos chamados grupos de risco ou vulneráveis (prostitutas, homossexuais e usuários de drogas injetáveis) tiveram uma presença menor em pesquisas recentes sobre o crescimento da Aids no Brasil.
Mudanças na estratégia das campanhas de conscientização vêm sendo defendidas por representantes de organizações não-governamentais, que ressaltam a precariedade de atenção a essas estatísticas. Reivindicam-se, ainda, novas e eficientes políticas públicas de educação e de informação aos doentes e não-doentes.
Uma crítica comum é a inexistência de ações visando a inclusão social e o respeito a classes como o denominado grupo GLBTT (Gays, Lésbicas, Bissexuais, Transexuais e Travestis). “A mídia e as campanhas nunca abrangem todos os grupos, o que indica deficiência na conscientização”, afirmou Beto Volpe, representante da ONG Hipupiara, com sede em São Vicente.
Repudia-se também a associação da aids ao homossexualismo. Para o representante do Centro Convivência Joana D’Arc, de Guarujá, Luiz Eduardo dos Santos, a forma como o homossexual é mencionado na mídia, inclusive, deveria ser diferente. Segundo ele, a palavra “gay” muitas vezes é expressa de forma imprópria, em tons machistas.
“É preciso desconstruir os significados que as pessoas têm para definir o que é ser homem e o que é ser mulher, pois antes de serem homo ou heterossexual, as pessoas têm sua essência, seu gênero: masculino ou feminino”, comentou Santos.
A falta de informação para pessoas soropositivas sobre as possibilidades da co-infecção, com a contração da hepatite B ou C, é outro problema. De acordo com o Grupo Esperança, ONG que funciona em Santos, a demora no diagnóstico dos dois tipos da doença no portador do HIV é responsável pela morte de 50% dos soropositivos. “Hoje 40% dos soropositivos são infectados pelos vírus da Hepatite B ou C. Desses, 90% não sabem que têm a doença”, alerta o presidente da instituição, Jeová Pessin Fragoso.
“Quando uma pessoa infectada descobre que contraiu hepatite, especialmente a mais grave, tipo C, a doença já evoluiu para estágios fatais, como cirrose e falência hepática”, disse Fragoso. A solução, segundo ele, seria a intensificação das campanhas informativas dirigidas ao soropositivo, abordando a necessidade de exames específicos para detecção da hepatite.
Milhão - No Brasil, 371 mil pessoas vivem com o vírus HIV, mas o Ministério da Saúde estima que outras 742 mil sejam portadoras da doença e não sabem exatamente por não terem consciência de que passaram por uma situação de risco.
De janeiro a outubro deste ano, o CTAP de Praia Grande realizou 26,9% testes sangüíneos a mais em relação ao mesmo período, em 2005. Nos primeiros dez meses do ano passado, o CTAP promoveu 2.299 testagens para detecção do vírus HIV. Neste ano, foram 619 testes a mais, somando 2.918. Desde que entrou em funcionamento na Cidade - 19 de fevereiro de 1998 - até outubro último, o CTAP já realizou 28.072 testes.
O órgão também intensificou as atividades de conscientização. De janeiro a dezembro deste ano, durante palestras e dinâmicas, 23.775 pessoas receberam folhetos educativos ou informações diretamente dos agentes. O número é 38,9% superior ao mesmo período do ano passado: 6.663 pessoas a mais - quase o equivalente à população do bairro Caiçara.
“O grande número de testes reflete a maior quantidade de pessoas atingidas pela campanha permanente. Ampliamos tanto as atividades voltadas ao público em geral como também para as comunidades mais vulneráveis à epidemia”, destaca a coordenadora municipal de DST/Aids/Hepatites. “O fato de a equipe trabalhar há mais tempo junta, participando de várias capacitações, também colabora com o melhor resultado”, ressalta Renata Felsch.
O sucesso do trabalho do CTAP está na descentralização parcial das atividades de testagem. Uma das práticas da equipe, quando realiza dinâmicas de conscientização, é a distribuição de guias para a coleta de sangue na unidade. “Contamos com uma demanda provocada”, diz Renata. A coordenação conta com parcerias com as Unidades de Saúde da Família para a conscientização sobre DSTs, aids e hepatites e também junto a atendidos por programas das secretarias de Educação e Promoção Social.
Durante o pré-natal, os médicos generalistas e ginecologistas-obstétricos de Praia Grande também solicitam exame para a detecção de aids, sífilis e hepatite. “Cabe à mulher decidir se quer fazer ou não. O protocolo que estabelece esta política quase zera o número de bebês infectados”, afirma Renata.
Aids - A síndrome da imunodeficiência adquirida é desenvolvida no corpo humano após a infecção pelo vírus HIV (vírus da imunodeficiência humana, em inglês human immuno-deficiency virus). A doença, transmitida através de qualquer contato com sangue, ataca o sistema imunológico, que nada pode fazer para destruir o vírus.
Contra a doença existem medicamentos que dificultam a multiplicação do HIV. A combinação de remédios, conhecida como coquetel, adia os sintomas da doença. O maior problema no tratamento é a sua alta capacidade de mutação, na relação entre medicamento e doença. Os coquetéis costumam causar perda de gorduras em partes do corpo (como a queda das maçãs do rosto) e acúmulo em outras.
Quando a doença chegou ao País, os sintomas comuns eram vômitos e diarréias constantes. Com o passar dos anos, a doença adquiriu outras características e mais conseqüências foram observadas, como manchas na pele, por exemplo.
Além dos efeitos inesperados e destruidores, existe também o surgimento de novos tipos do vírus, a partir da “re-infecção”, combinando-se um vírus com outro, tornando complicada a identificação e atrasando o processo de descoberta para a cura. Existe também o índice de tuberculose e principalmente hepatite C, que co-atuando com o HIV torna a sobrevida de um soropositivo um desafio a cada dia.
Serviço - Só é possível identificar a contaminação pelo vírus em um tempo que varia de três a seis meses após a infecção, o que é conhecido por janela imunológica. “As pessoas procuram o serviço geralmente após passarem por uma situação de risco e esquecem da janela”, comenta Renata.
Todos têm direito de realizar os testes gratuitamente em qualquer período do ano. Para isso, basta ir até o CTAP às 9 horas, de segunda a sexta-feira, quando ocorre palestra explicando principalmente a questão da janela imunológica e a necessidade de solidariedade com os soropositivos.
Qualquer grupo interessado em receber palestra sobre DSTs, aids e hepatites pode entrar em contato com o CTAP, que conta com equipe de agentes multiplicadores de informação e monitores. O centro funciona junto à Coordenação Municipal de DST/Aids/Hepatites, na Avenida Presidente Kennedy, 2.030, bairro Guilhermina, telefone 3473-3351.
*Com colaboração de Eli Vieira