Uma pitoresca história

A emancipação teve idas e vindas e foi fruto da vontade de centenas de munícipes

Por | 18/1/2007

Praia Grande completa nesta sexta-feira (19) seu 40º aniversário de emancipação político-administrativa. Mas a sua história começa bem antes, em 1532, durante a colonização da área de São Vicente, hoje conhecida como Japuí.

O povoamento da Cidade, cujo nome é derivado da palavra tupi "Peabuçu", que significa porto grande, iniciou-se a partir da chegada de Martim Afonso de Souza e, durante três séculos, caracterizou-se pela presença de núcleos caiçaras, entre a encosta do Morro Xixová e a divisa com Mongaguá. Embora desde o final do século XIX já existissem núcleos de povoação estabelecidos no Boqueirão, Guilhermina e Solemar, entre outros, o desenvolvimento do então bairro vicentino só teria início com as construções da Fortaleza de Itaipu (entre 1902 e 1910) e da Ponte Pênsil (em 1914). A construção da Estrada de Ferro Santos - Juquiá (1912) e, tempos depois, da Estrada de Ferro Sorocabana, também contribuíram para a formação do Município.

A primeira ocupação da orla da praia, que permanecia intacta, ocorreu em 1936 com a fundação do Aeroclube de Santos, posteriormente Aeroclube de Praia Grande, área de pouso e decolagem hoje desativada, no coração do Bairro Aviação.

As primeiras construções começaram somente em 1945, no Boqueirão. Nessa época, Antonio Augusto de Sá Lopes acabou se destacando como um dos principais incentivadores da expansão imobiliária, sempre acreditando no potencial turístico da Cidade. Sá Lopes promovia excursões nas décadas de 30 e 40, atraindo milhares de pessoas, principalmente de Santos, com boatos sobre a existência de uma enorme baleia nas imediações da praia do Boqueirão.

Apesar de o mamífero nunca ter sido visto, os visitantes ficavam encantados com o clima de tranqüilidade e com o bonito visual das praias da Cidade, com os caiçaras puxando suas redes de pesca. Muitas pessoas decidiram comprar terrenos a partir dessas excursões.

Esse trabalho de Sá Lopes, juntamente com a construção da Via Anchieta e a expansão da indústria automobilística, acabaram promovendo um processo de êxodo semanal do Planalto à região, provocando a valorização das terras na orla da praia. Os principais loteamentos totalmente organizados foram o Jardim Guilhermina e Cidade Ocian, que dão nome a dois dos principais bairros da Cidade.

Emancipação – Os ideais de emancipação de Praia Grande começaram a ser disseminados bem antes da conquista, que ocorreu em 1967. Havia já no início da década de 50 um descontentamento da população do então bairro, diante dos poucos recursos destinados pela prefeitura vicentina ao local. Em 1953 aconteceu o primeiro movimento pró-emancipação do distrito de Solemar, liderado por Julio Secco de Carvalho, sem êxito.

Em 1958, o vereador Oswaldo Toschi esteve à frente da comissão pró-desmembramento de Praia Grande. A pretensão do grupo pouco sensibilizou os políticos da região e a Assembléia Legislativa vetou o pedido de emancipação, alegando falta de documentação.

Quatro anos depois, em dezembro de 62, foi realizada reunião no Hotel Maracanã, presidida pelo deputado Hilário Torloni, para discutir novamente as possibilidades de emancipação. Na ocasião, foi formada uma comissão que fundou o Movimento Pró- Emancipação, oficializado em 17 de junho de 1963.

Cinco meses mais tarde, a Comissão Administrativa e Judiciária da Assembléia Legislativa aprovou o desmembramento de Solemar e do subdistrito do Boqueirão. Em 8 de dezembro de 1963 foi realizado o plebiscito para homologar a emancipação.

Dos 707 eleitores - moradores do então Distrito de Solemar -, 680 votaram a favor, 12 em branco e 15 anularam o voto. O resultado foi referendado pela assembléia dos deputados, com o encaminhamento da lei que criaria o Município de Praia Grande. Em 31 de dezembro do mesmo ano, o governador do Estado, Adhemar de Barros, aprovou a criação do Município de Praia Grande.

Revés - Em março de 1964 ocorreu um novo revés: a Prefeitura de São Vicente impetrou mandado de segurança contra o plebiscito. Em abril, os atos foram sustados pelo Tribunal de Justiça do Estado. A eleição do prefeito e vereadores foi suspensa até o julgamento do mérito pelo Tribunal.

Após cansativo trabalho de advogados e juristas e de um movimento de bastidores liderado pelos deputados Hilário Torloni, Oswaldo Massei e Ítalo Fittipaldi, Praia Grande conseguiu ter seus direitos reconhecidos como município autônomo em 16 de outubro de 1966, quando o Supremo Tribunal Federal sentenciou a legitimidade da separação.

O Município foi oficialmente instalado em 19 de janeiro de 1967, com a posse do interventor federal, Nicolau Paal. O primeiro prefeito eleito foi um dos líderes do movimento de emancipação, Dorivaldo Loria Junior, que viria a ser prefeito da Cidade por três vezes.