Informação é arma contra desmame precoce de bebês

Sesap investe na orientação das mães, do pré-natal às consultas pediátricas

Por Nádia Almeida | 26/1/2007

Os primeiros dias após o nascimento vão determinar o sucesso ou fracasso de um direito de toda criança: ser nutrida com leite materno. Se a mãe se preparou durante a gravidez para amamentar e está bem informada, tudo flui naturalmente. Mas quando prevalecem dúvidas, mitos e insegurança, um ato natural acaba se tornando experiência estressante. Em Praia Grande, a Secretaria de Saúde Pública (Sesap) começa o aconselhamento ainda no pré-natal, com ênfase no período pós-parto, garantindo que os bebês saiam do Hospital Municipal em perfeita sintonia com as mães.

A pediatra Simíldeci Fozatto Ramalho, coordenadora de Programas da Secretaria de Saúde (Sesap), é responsável por essa ação. Nas Unidades de Saúde da Família (Usafas), as gestantes que passam pelo pré-natal são alvos de palestras ministradas por enfermeiras. “Elas têm oportunidade de esclarecer dúvidas, derrubar preconceitos e falsas imagens”, explica. “As mães estão mais conscientes e, cada vez mais, aderindo ao aleitamento.”

Da maternidade às consultas pediátricas, a orientação continua. “Existem os grupos das lactantes. Os médicos observam se a posição está correta, se a mãe está tendo dificuldades, dá incentivo, explica sobre o peso”, prossegue. “Uma criança que mama no peito freqüentemente não é tão pesada como a que mama na mamadeira, mas é muito mais saudável. Não tem nem comparação.”

Simíldeci observa que as primeiras horas são cruciais. “É importante dar um suporte logo que o bebê nasce, ainda no berçário. Dentro da maternidade, as enfermeiras fazem essa orientação. Aqui, no hospital, temos o alojamento conjunto. O bebê fica ao lado da mãe e esse contato ajuda na parte emocional da formação do leite. O relacionamento entre mãe e filho fica diferente.”

Vantagens - São muitas as vantagens do leite materno em comparação ao industrializado, que pode até provocar alergia e obesidade. “O leite em pó tem um aporte calórico diferente, vai aumentar o peso. Ainda existe aquela imagem que bebê bonito e saudável é gordinho. Mas a obesidade que começa nos primeiros meses de vida fica difícil de controlar na idade adulta”, reforça.

Além da parte nutricional, o leite funciona como uma espécie de vacina. “A criança que mama no peito não fica doente porque todos os anticorpos da mãe são passados para a criança no que a gente chama de memória imunológica”, completa.

Em casa - Muitos dos problemas que dificultam e até impedem o aleitamento acontecem na volta ao lar. “Antigamente se achava que o leite fabricado era superior, mas isso vem mudando e muitas mulheres já têm consciência de que precisam amamentar”, expõe. “Só que suas mães, avós, tias dão palpites, acham que a criança não está ganhando peso suficiente e que é preciso introduzir outros alimentos.”

Fragilizadas pelo parto, as mães acabam cedendo às pressões e introduzindo outros alimentos antes dos seis meses de idade, quando a Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza o aleitamento materno exclusivo. Basta uma chupeta para antecipar o desmame. “Existem estudos americanos que dizem que uma criança pode chorar até duas horas por dia sem motivo, numa atividade normal. As mães ficam agoniadas e logo pensam que as crianças estão insatisfeitas”, diz. “Acabam facilitando com a mamadeira, mas estão criando problemas. Esse tipo de sucção é diferente da que é feita no seio. O bebê aprende que existe alguma coisa que oferece alimento de forma mais fácil e rápida: é a lei do mínimo esforço.”

Além de fortalecer o vínculo afetivo da dupla, a amamentação também permite que a mãe tenha uma redução de peso e evita câncer de mama. É saudável, prático, gratuito e higiênico. “Para o bebê, não há melhor alimento. Perfeito, tem todas as vitaminas, sais minerais, proteínas e gorduras específicas”, afirma a médica. “Não existe substituto à altura do leite materno. Ele é o mais importante alimento e um direito que a criança tem.”

Características - Ao orientar as mães, as equipes procuram desfazer mitos. “Não existe leite fraco. O que acontece é que a composição varia no começo, meio e final da mamada. No começo sai um leite bem aguadinho, clarinho, porque é mais rico em água e proteína. Depois vai engrossando aos poucos até ficar mais rico em gordura”, ressalta. “É importante também que o bebê esvazie um peito para depois passar para o outro.”

Segundo a médica, existem praticamente três tipos de leite: o colostro, do nascimento à primeira semana de vida, “excelente em nutrição”; o intermediário, e o maduro, só produzido 15 dias após o nascimento. Cada leite pode ter ainda uma coloração diferente, de acordo com a alimentação da mãe, que pode variar em tons azul claro, amarelo claro ou forte, branco transparente e até esverdeado. “Tem casos de leite com cor de caldo de cana, quando as gestantes ingerem muitas hortaliças. A mãe pensa que é pus, fica preocupada, mas coloração sem dor, sem outros problemas, não é preocupante. Pode amamentar tranqüilamente.”

É possível amamentar, mesmo após a licença-maternidade

Até o sexto mês de vida, nem água deve ser oferecida ao bebê porque o leite é completo, segundo a pediatra. “A partir daí, a criança começa a alimentação progressiva, mas o ideal é que a mãe consiga amamentar até o bebê chegar aos dois anos de idade. É difícil, complicado, porque a maioria das mulheres trabalha fora, mas é possível.”

Profissionais de saúde ensinam como fazer a retirada do leite e estocagem em potes esterilizados e em temperatura adequada. “No freezer ou congelador, pode durar 15 dias. Então é preciso datar o leite. Quem ficar tomando conta do bebê vai colocar o leite numa vasilha em banho-maria e amornar na temperatura do corpo. O restante não pode ser guardado de novo. O leite deve ser dado em copinho plástico, pequena xícara ou conta-gotas, nunca em mamadeira.”

No pré-natal, outras dicas são dadas pelas enfermeiras, como tomar sol nos seios ainda na gestação para evitar as temidas rachaduras nos mamilos, que pode até causar uma inflamação chamada mastite. “A posição incorreta da boca do bebê, muitas vezes, é o que racha o mamilo. A criança precisa colocar na boca o mamilo e uma parte da auréola também.”

Além de todos os conselhos, a médica orienta as mulheres a cuidarem de si mesmas. “Os familiares esperam que elas façam tudo o que faziam antes, amamentem e cuidem do bebê ao mesmo tempo. Como ninguém é de ferro, têm que priorizar e delegar tarefas. Se a mãe não receber ajuda, vai entrar num quadro de estresse, o que diminuirá a produção de leite”, alerta. “A única chance que o bebê tem de ser amamentado são nesses primeiros meses de vida. Ou ele aproveita esse tempo para se fortificar ou nunca mais vai ter essa chance na vida. E isso vai influenciar muito na idade adulta.”