Por preconceito, mulheres temem o exame papanicolau

Exame preventivo e uso de preservativo ajudam a evitar o câncer de colo de útero

Por Nádia Almeida | 7/3/2007

Transpor preconceitos em nome da saúde. Com essa missão, médicas e enfermeiras das Unidades de Saúde da Família (Usafas) e multiclínicas de Praia Grande tentam convencer mulheres que nunca fizeram o exame ginecológico preventivo (papanicolau) da necessidade de prevenir o câncer de colo uterino. A doença tem cura quando detectada precocemente. Munidas de informações, as profissionais estão realizando palestras diárias em todas as unidades até a próxima sexta-feira (9).

A ação, que integra a programação da Semana de Saúde da Mulher, visa ainda atingir mulheres que não fizeram o exame há mais de um ano ou receberam indicação médica. Trata-se de um complemento ao que já é desenvolvido pela Estratégia de Saúde da Família, aproveitando o apelo do Dia Internacional da Mulher (8 de março) para mobilizar a população feminina a comparecer aos postos de saúde.

Trabalhando na Usafa São Jorge, a enfermeira Maria de Fátima Alves Pereira Roman observa que muitas temem sentir dor. “Quando a paciente não entende como o exame é feito, desiste. Tem de haver um clima favorável para que não haja empecilho ao acesso dessa paciente. É uma relação de confiança”, salienta.

Outra barreira é a vergonha que muitas sentem em fazer o exame com médicos. “Infelizmente, em pleno ano de 2007, isso ainda acontece”, lamenta Maria de Fátima, acrescentando que enfermeiras também estão aptas a fazer o procedimento.
Nas palestras, ela esclarece como se realiza a coleta das células do colo do útero para análise e salienta que tudo é muito rápido (dura menos de cinco minutos). “Pode ser algo desconfortável, mas é necessário porque numa simples coleta podemos detectar bactérias ou vírus.”

Após a realização do exame, as unidades solicitam o retorno para pegar o resultado. Se houver a constatação de lesões ou outros problemas, a paciente é encaminhada a tratamento.

Preservativo – A médica generalista Valéria Amaral, da Usafa Vila Sônia, não se limita a orientar pacientes na unidade de saúde. Vai além, levando informações a escolas, para atingir adolescentes. “A gente está sempre falando isso, repetindo. Abordo tudo, levo preservativos feminino e masculino, porque o visual atrai a atenção. Eles participam, fazem grupos de debate, porque às vezes não têm esse acesso em casa.”

Pelo trabalho desenvolvido desde o ano passado, Valéria acredita que restam poucas mulheres no bairro Vila Sônia que nunca foram examinadas. “Não digo 100%, porque aqui sempre tem gente chegando, família mudando, mas quase conseguimos atingir todas. Queremos zerar. Independentemente do que ela vem fazer no posto, se nunca fez, é encaminhada. Além disso, estamos sempre abordando o assunto nos grupos de gestantes, hipertensos e diabéticos, além das visitas mensais nos domicílios.”

Curiosamente, Valéria observa que a maior parte das mulheres que nunca fizeram o preventivo é idosa. “Geralmente são procedentes do interior do Nordeste. Não tiveram acesso. Então, a gente conversa. Já as adolescentes vêm até espontaneamente. Estão mais informadas.”

Gravidez - Entre os mitos que se popularizaram, a médica ginecologista Márcia Mendes explica que a gravidez não impede o exame, desde que não haja alguma patologia obstétrica ou outro problema.

“Aqui a gente faz a captação de todas as gestantes para a coleta do preventivo porque é um momento em que ela está na unidade fazendo todos os exames”, cita. “Apenas não realizamos naquelas que se negam a fazer, por preconceito, já que não existe qualquer contra-indicação do preventivo na gestação.”

Como a médica Valéria, Márcia Mendes também destaca que as adolescentes que buscam anticoncepcional na unidade são orientadas a usar preservativo. “Elas recebem a informação de que apenas o uso do anticoncepcional não resolverá o problema. Com o medicamento, não ficam grávidas, mas podem contrair doenças sexualmente transmissíveis, como HPV, sífilis, aids, hepatites B e C.”

Apontado como um dos agentes causadores do câncer de colo uterino, o HPV (Papiloma Vírus Humano) pode ser um inimigo oculto, já que nem sempre é possível notar suas manifestações, como verrugas. “Às vezes, no homem, ele pode estar no canal da uretra e não se consegue visualizar. Quando a paciente apresenta esse vírus, pedimos que o parceiro vá com ela no SAE (Serviço de Atendimento Especializado)”, completa Márcia.

A campanha nas Usafas e multiclínicas ocorre até sexta-feira, das 8 às 12 horas e das 13 às 17 horas.