Caramujo gigante: de carne exótica à praga urbana

Em meio livre, animal transmite doenças graves

Por Nádia Almeida | 16/4/2007

Introduzido no Brasil para consumo alimentar, o caramujo gigante de nome científico Achatina fulica virou praga urbana. Originário da África, esse molusco terrestre que pesa até 200 gramas seria comercializado como alternativa ao também caramujo “escargot” (Helix aspersa), mas não teve boa aceitação no mercado de carnes exóticas, como explica o responsável pela Divisão de Controle de Zoonoses da Secretaria de Saúde Pública (Sesap), Osório Gonçalves Júnior.

Em Praia Grande, na década de 90, houve tentativa frustrada de criar o animal em larga escala no bairro Sítio do Campo, o que acarretou transtornos pela procriação descontrolada. Para conter o avanço do problema, em 2005 a Sesap promoveu campanha junto à população para destruir os focos, o que surtiu efeitos positivos. “De 2006 para cá, o número de reclamações caiu em quase 90%”, informa Gonçalves.

Apesar disso, em épocas de chuva como outono ou inverno, os animais aparecem com mais freqüência em jardins e lugares úmidos, ricos em matéria orgânica, ambientes ideais para a espécie. Geralmente vivem escondidos e só saem para se alimentar ou se reproduzir à noite ou logo após as chuvas. “Os terrenos baldios são um problema”, explica Gonçalves, que é veterinário e sanitarista. Por isso torna-se importante manter limpos terrenos e quintais, retirando entulho, mato e lixo.

Eliminação - Jamais se deve pegar um caramujo com a mão desprotegida. Toda a operação de eliminação deve ser feita com luvas ou sacos plásticos para evitar qualquer contato com a pele.
O primeiro passo é fazer salmoura (água com sal comum) em um balde. Os caramujos devem ser depositados nessa solução até que morram. Se a pessoa esmagar ou enterrar o animal vai liberar seus ovos - um único caramujo pode dispensar até 200 ovos em cada postura. Os filhotes chegam à idade adulta em seis meses. “Como são hermafroditas, todos possuem ovos”, alerta o veterinário.

Para que não haja uma nova infestação, os animais mortos devem ser levados dentro de um saco de lixo até o Centro de Zoonoses (Avenida Roberto de Almeida Vinhas, 3.839, bairro Antártica). “Lá, são congelados para posterior incineração”, acrescenta. Quem não tiver condições, pode ligar para o centro pelo telefone 3596.1882 e solicitar a remoção.

Danos - Com apetite voraz, o caramujo gigante pode destruir plantações, causando prejuízos econômicos e desequilibrando a natureza. Herbívoro, alimenta-se de gramas, folhas e frutos. “Para se ter uma idéia, esse animal consome o equivalente a 40% de seu peso por dia”, cita Gonçalves.

Mas o maior risco é outro. Quando criado em cativeiro, de acordo com as normas, o caramujo gigante é comercializado como alimento. No entanto, em ambiente livre pode ser transmissor do verme Angiostrongylus. Na versão Angiostronglus cantonesis, causa a doença angiostrongilíase meningoencefálica, que é grave e paralisa o sistema nervoso central. Dor de cabeça intensa, rigidez na nuca, formigamentos pelo corpo, febre e paralisias temporárias são alguns dos sintomas. Se alojado no olho, o microorganismo pode causar cegueira. Não há registros de casos no Brasil, mas a doença acomete países da África e Ásia.

Doença não menos perigosa, também ocasionada pelo mesmo agente, mas denominado Angiostrongylus costaricensis, é a angiostrongilíase abdominal, que atinge principalmente o intestino grosso e pode provocar hemorragias. A contaminação ocorre pelo consumo do molusco ou pela ingestão de alimentos contaminados com seu muco, daí a importância da higienização correta de frutas, legumes e verduras. Os dados são do Instituto Horus.

Outra dica para evitar doenças é não utilizar a concha (de cor cinza ou marrom, com linhas mais claras, que pode chegar a 12 centímetros de comprimento) como objeto de artesanato.