Ong pesquisa pesca artesanal em Praia Grande
Cidade tem apenas 21 pescadores, todos com menos de 30 anos de idade
Por Ana Flávia Scarelli | 4/6/2007

Praia Grande tem apenas 21 pescadores regularizados, todos com menos de 30 anos de idade. A maioria migrou para a Cidade em busca de melhores condições de vida e encontrou na pesca uma possibilidade de fonte de renda. Boa parte acredita que esta é uma atividade que não exige capacitação. Os dados foram apresentados pela bióloga Carolina Pacheco Bertozzi, presidente da organização não governamental Biopesca, na palestra “Pesca Artesanal – Preservando a Convivência”, realizada no Auditório Jornalista Roberto Marinho.
A bióloga se diz preocupada com a situação. “É a descaracterização e a desestruturação da pesca artesanal. Antes, o ‘velho’ pescador repassava seu conhecimento a um filho ou a um ajudante. O problema é grave. A maioria dos ‘novos’ pescadores não conhece intimamente o mar e a natureza”.
Pesquisa – Em razão da ausência de estudos sobre a pesca artesanal e a interação desta com capturas acidentais de animais marinhos no litoral de São Paulo, Carolina e o oceanógrafo Alexandre Zerbini, iniciaram, em agosto de 1998, estudo sobre a atividade.
Nesse período, levantaram e analisaram informações sobre a captura acidental de golfinhos e tartarugas marinhas nas redes utilizadas pela frota de pesca artesanal de Praia Grande. Fundada em abril de 2002, a ONG BioPesca atualmente conta com equipe de nove biólogos, quatro veterinárias e um oceanógrafo.
O projeto, que começou com uma comunidade de pesca, foi ampliado e hoje monitora comunidades do litoral central do Estado, somando cerca de 20 embarcações de pesca de pequeno porte. Os barcos são visitados até duas vezes por semana para a coleta de dados sobre a pesca e captura acidental de animais marinhos.
O trabalho mostra que em Praia Grande a frota de embarcações de pequeno porte é desprovida de equipamentos de navegação e detecção de cardumes. Em sua maioria, os barcos, de madeira ou alumínio, têm propulsão com motores de centro ou de popa.
Atualmente, ao longo do litoral brasileiro, há cerca de 27 mil embarcações. “Hoje, dados da pesca no Brasil não são precisos. Estima-se que, nos últimos cinco anos, pescou-se de 25 a 30 mil toneladas/ano. Nessa conta não entra a pesca artesanal”. As redes utilizadas são ‘de espera’ para a captura de peixes do fundo do mar, como pescadas e corvinas e, outras espécies que vivem próximas à superfície, como cações e robalos.
Segundo Carolina Bertozzi, a pesca é realizada ao longo de todo o ano e aumenta no verão, quando há maior procura pelo pescado e o mar apresenta melhores condições de navegabilidade. “As redes têm malha de no mínimo de sete centímetros, o que impossibilita a captura de peixes de pequeno porte. A seletividade, somada à pequena produção desembarcada por essa frota, faz com que poucas espécies sejam rejeitadas para o comércio, gerando máximo aproveitamento nos desembarques”.
Acidental – Mas as redes também trazem animais que não são o objetivo da pescaria, fato denominado “captura acidental”. Dentro desta categoria estão pequenos golfinhos e tartarugas marinhas. Esses animais não possuem valor comercial e muitas vezes causam grandes prejuízos, pois danificam as redes.
“Pouco ou quase nada se conhece sobre a interação da pesca artesanal com golfinhos e tartarugas marinhas. Isso se deve principalmente ao medo do pescador de informar que, sem querer, prendeu um golfinho ou tartaruga em sua rede”, afirmou Carolina. “Esse temor é bastante justificável, já que tanto os golfinhos como as tartarugas são protegidos por lei. Sua caça é proibida no Brasil”.
Segundo Carolina, o receio da fiscalização dificulta e até mesmo impossibilita o conhecimento do real número de animais mortos acidentalmente. “Somente através da confiança dos pescadores nos pesquisadores esses números estão sendo revelados”.
Informações do projeto apontam que as tartarugas são liberadas com vida em maior número, quando comparadas às doninhas. “Isso se deve ao fato de possuírem maior capacidade de permanecer embaixo da água sem respirar. Porém, em muitos casos, no momento da retirada das redes, as tartarugas estão desmaiadas e para que possam se recuperar e serem soltas no mar, precisam ser reanimadas”, explicou. “O procedimento tem sido realizado pelos pescadores, após orientação da ong. Atualmente, mais da metade das tartarugas acidentalmente capturadas voltam vivas para o mar”.
USP – Carolina Pacheco Bertozzi é bióloga e mestre em Oceanografia Biológica pela USP. Atualmente coordena quatro projetos de pesquisa financiados pela Fundação Boticário, FNMA-Probio, Yaqu Pacha e Project Aware-Padi.
Ela participou do segundo cruzeiro oceanográfico do projeto "Importância e Caracterização da Quebra da Plataforma Continental para Recursos Vivos e Não Vivos", do Instituto de Oceanografia da USP, e possui três publicações de cunho científico e oito resumos em eventos nacionais e internacionais. Destaque para o prêmio de melhor pôster de aluno de mestrado (Best pre-doctoral student poster presentation) na 14th Biennial Conference on the Biology of Marine Mammals, em Vancouver, Canadá.
Contatos com a ONG Biopesca, na Rua Paraguai, 241, Bairro Guilhermina, em Praia Grande, ou ainda pelos e-mails carolinabertozzi@hotmail.com e contato@biopesca.oceanografia.org.
Semana – A palestra, na noite da última sexta-feira, foi realizada dentro da programação da Semana do Meio Ambiente de Praia Grande. Alunos da Escola Técnica Estadual Adolpho Berezin, pedagogos comunitários, estudantes universitários e pescadores acompanharam o evento, rico em dados sobre a pesca na região.
Organizada pela Coordenadoria de Meio Ambiente da Secretaria de Educação, a semana será encerrada nesta terça-feira (5), Dia Mundial do Meio Ambiente, com a promoção de passeata de conscientização sobre a necessidade de manutenção da limpeza pública na comunidade do Bairro Samambaia. A concentração, às 9 horas, será em frente à Escola Estado do Amazonas, na Avenida Maria Cavalcante da Silva, s/nº.
Às 19 horas, a coordenadoria recebe coleção de animais marinhos elaborada por alunos de Ciências Biológicas da Unesp. A noite será fechada com a celebração dos “Dez Anos de Educação Ambiental de Praia Grande”, com palestra da coordenadora Glória Bruno e exibição de fotos dos projetos desenvolvidos.
A bióloga se diz preocupada com a situação. “É a descaracterização e a desestruturação da pesca artesanal. Antes, o ‘velho’ pescador repassava seu conhecimento a um filho ou a um ajudante. O problema é grave. A maioria dos ‘novos’ pescadores não conhece intimamente o mar e a natureza”.
Pesquisa – Em razão da ausência de estudos sobre a pesca artesanal e a interação desta com capturas acidentais de animais marinhos no litoral de São Paulo, Carolina e o oceanógrafo Alexandre Zerbini, iniciaram, em agosto de 1998, estudo sobre a atividade.
Nesse período, levantaram e analisaram informações sobre a captura acidental de golfinhos e tartarugas marinhas nas redes utilizadas pela frota de pesca artesanal de Praia Grande. Fundada em abril de 2002, a ONG BioPesca atualmente conta com equipe de nove biólogos, quatro veterinárias e um oceanógrafo.
O projeto, que começou com uma comunidade de pesca, foi ampliado e hoje monitora comunidades do litoral central do Estado, somando cerca de 20 embarcações de pesca de pequeno porte. Os barcos são visitados até duas vezes por semana para a coleta de dados sobre a pesca e captura acidental de animais marinhos.
O trabalho mostra que em Praia Grande a frota de embarcações de pequeno porte é desprovida de equipamentos de navegação e detecção de cardumes. Em sua maioria, os barcos, de madeira ou alumínio, têm propulsão com motores de centro ou de popa.
Atualmente, ao longo do litoral brasileiro, há cerca de 27 mil embarcações. “Hoje, dados da pesca no Brasil não são precisos. Estima-se que, nos últimos cinco anos, pescou-se de 25 a 30 mil toneladas/ano. Nessa conta não entra a pesca artesanal”. As redes utilizadas são ‘de espera’ para a captura de peixes do fundo do mar, como pescadas e corvinas e, outras espécies que vivem próximas à superfície, como cações e robalos.
Segundo Carolina Bertozzi, a pesca é realizada ao longo de todo o ano e aumenta no verão, quando há maior procura pelo pescado e o mar apresenta melhores condições de navegabilidade. “As redes têm malha de no mínimo de sete centímetros, o que impossibilita a captura de peixes de pequeno porte. A seletividade, somada à pequena produção desembarcada por essa frota, faz com que poucas espécies sejam rejeitadas para o comércio, gerando máximo aproveitamento nos desembarques”.
Acidental – Mas as redes também trazem animais que não são o objetivo da pescaria, fato denominado “captura acidental”. Dentro desta categoria estão pequenos golfinhos e tartarugas marinhas. Esses animais não possuem valor comercial e muitas vezes causam grandes prejuízos, pois danificam as redes.
“Pouco ou quase nada se conhece sobre a interação da pesca artesanal com golfinhos e tartarugas marinhas. Isso se deve principalmente ao medo do pescador de informar que, sem querer, prendeu um golfinho ou tartaruga em sua rede”, afirmou Carolina. “Esse temor é bastante justificável, já que tanto os golfinhos como as tartarugas são protegidos por lei. Sua caça é proibida no Brasil”.
Segundo Carolina, o receio da fiscalização dificulta e até mesmo impossibilita o conhecimento do real número de animais mortos acidentalmente. “Somente através da confiança dos pescadores nos pesquisadores esses números estão sendo revelados”.
Informações do projeto apontam que as tartarugas são liberadas com vida em maior número, quando comparadas às doninhas. “Isso se deve ao fato de possuírem maior capacidade de permanecer embaixo da água sem respirar. Porém, em muitos casos, no momento da retirada das redes, as tartarugas estão desmaiadas e para que possam se recuperar e serem soltas no mar, precisam ser reanimadas”, explicou. “O procedimento tem sido realizado pelos pescadores, após orientação da ong. Atualmente, mais da metade das tartarugas acidentalmente capturadas voltam vivas para o mar”.
USP – Carolina Pacheco Bertozzi é bióloga e mestre em Oceanografia Biológica pela USP. Atualmente coordena quatro projetos de pesquisa financiados pela Fundação Boticário, FNMA-Probio, Yaqu Pacha e Project Aware-Padi.
Ela participou do segundo cruzeiro oceanográfico do projeto "Importância e Caracterização da Quebra da Plataforma Continental para Recursos Vivos e Não Vivos", do Instituto de Oceanografia da USP, e possui três publicações de cunho científico e oito resumos em eventos nacionais e internacionais. Destaque para o prêmio de melhor pôster de aluno de mestrado (Best pre-doctoral student poster presentation) na 14th Biennial Conference on the Biology of Marine Mammals, em Vancouver, Canadá.
Contatos com a ONG Biopesca, na Rua Paraguai, 241, Bairro Guilhermina, em Praia Grande, ou ainda pelos e-mails carolinabertozzi@hotmail.com e contato@biopesca.oceanografia.org.
Semana – A palestra, na noite da última sexta-feira, foi realizada dentro da programação da Semana do Meio Ambiente de Praia Grande. Alunos da Escola Técnica Estadual Adolpho Berezin, pedagogos comunitários, estudantes universitários e pescadores acompanharam o evento, rico em dados sobre a pesca na região.
Organizada pela Coordenadoria de Meio Ambiente da Secretaria de Educação, a semana será encerrada nesta terça-feira (5), Dia Mundial do Meio Ambiente, com a promoção de passeata de conscientização sobre a necessidade de manutenção da limpeza pública na comunidade do Bairro Samambaia. A concentração, às 9 horas, será em frente à Escola Estado do Amazonas, na Avenida Maria Cavalcante da Silva, s/nº.
Às 19 horas, a coordenadoria recebe coleção de animais marinhos elaborada por alunos de Ciências Biológicas da Unesp. A noite será fechada com a celebração dos “Dez Anos de Educação Ambiental de Praia Grande”, com palestra da coordenadora Glória Bruno e exibição de fotos dos projetos desenvolvidos.