A pequena guardiã da cachoeira do Melvi
Estudante é pioneira em reivindicar direito a voz e voto de crianças em conferências
Por Nádia Almeida | 1/10/2007

O populoso bairro Melvi esconde um paraíso natural de bromélias, orquídeas, árvores típicas da Mata Atlântica, pássaros coloridos e animais silvestres, como macacos e preguiças. Isso porque o núcleo faz divisa com o Parque Estadual da Serra do Mar, onde está localizada a Cachoeira do Guariúma, um dos pontos de captação de água da Sabesp. Com ar puro, paz e águas claras, a cachoeira atrai amantes do verde, mas também gente que polui. Quem alerta é a estudante Fernanda Lima Arancibia, de 9 anos, que quer despertar a consciência ecológica nos moradores do bairro onde vive.
“Quando vou para a cachoeira vejo muitos plásticos no chão. Isso é muito triste”, afirma Fernanda. No Programa de Integração e Cidadania (PIC) Melvi, onde cursa teatro, a estudante tenta sensibilizar colegas e propõe reforço pedagógico para estimular a preservação. “Acho que uma professora consciente tem de ensinar os alunos a preservar a natureza.”
Nada passa ao seu olhar atento: dos que jogam detritos em áreas baldias nas ruas do bairro aos que sujam o rio Preto com materiais que poderiam ser reciclados. “As pessoas sujam muito o local com lixo. Quando esquecem de colocar para o lixeiro recolher, jogam nos terrenos e isso é muito ruim porque o plástico, as garrafas e as sacolas demoram a desaparecer”.
Pai herói – Fernanda aprendeu a proteger a natureza com o pai, Marcel Arancibia, não apenas em longas conversas, mas também em expedições ao manancial. Compositor e bacharel em Turismo, ele é casado com Heliane, que estuda Artes Plásticas, e pai de Isabela e Ivã (de 8 e 13 anos, respectivamente).
“Desde pequenos eles têm noção de como deve ser a relação com a natureza. Moramos muito perto da cachoeira e do rio, que é navegável e vai até a ponte do Mar Pequeno”, conta, citando que a filosofia de amor às plantas e animais passa de geração a geração. “Meus pais já se preocupavam com os problemas que estão acontecendo no mundo.”
O compositor explica que decidiu se formar em Turismo para divulgar recantos aprazíveis sem que essa exposição seja prejudicial. “Quando falamos de ecologia e meio ambiente, começamos a nos preocupar com esse impacto. São Tomé das Letras (MG), por exemplo, foi devastada”, exemplifica.
Na educação dos filhos, a música serve de instrumento para a conscientização. “Trabalho com arte-educação; minha proposta é voltada para o meio ambiente”, prossegue. “Atualmente, desenvolvo projeto de identificar os animais da Mata (Atlântica), da Costa. Meus filhos participam comigo; aprovam ou desaprovam as músicas; são meu termômetro.”
Planos – Ainda longe dos bancos universitários, Fernanda já se definiu pela ecologia, seja como estilista, incorporando materiais recicláveis à moda, ou no tratamento de animais selvagens. “Gosto dessas duas coisas.”
Ao completar 10 anos de idade (26 de setembro), Fernanda espera um mundo melhor no futuro. Questionada que presente de aniversário gostaria de ganhar, ela faz silêncio por alguns segundos e diz: “Queria que as pessoas soubessem mais sobre o meio ambiente.
Elas ficam devastando, jogando muito lixo. Queria que elas soubessem o que fazem de ruim para a natureza, que pensassem nisso e não fizessem mais”.
Setur elabora projeto para evitar degradação
Oficialmente, a trilha da Cachoeira de Guariúma não está aberta ao público. A Secretaria de Turismo (Setur) elabora amplo projeto que visa abrir o lugar à visitação sem que isso traga impactos negativos.
Profundo e detalhado, o trabalho já dura três anos. Estabelece regras dentro de técnicas e normas vigentes no setor, avalia capacidade de carga do ecossistema e orienta a inclusão social na preservação da fauna e flora, entre outros aspectos.
Bacharel em Turismo e pós-graduado em Educação Ambiental, o secretário de Turismo, José Alonso Júnior, explica que vários fatores são considerados antes da aguardada abertura. “Seria muito fácil definir trilhas e abrir ao público, mas queremos liberar com regras, temos essa responsabilidade”, prossegue. “Hoje algumas pessoas vão até o local, a maioria para degradar, infelizmente.”
A idéia é, inicialmente, permitir apenas o turismo contemplativo, uma vez que se trata de área de captação de água. Também haverá limite do número de visitantes segundo o fluxo que a cachoeira suporta. “Hoje, no máximo, 20 pessoas de manhã e mais 20 à tarde.”
Com a futura criação da Guarda Municipal Ambiental, um grupo da Guarda Civil, a fiscalização será intensa. Mas Alonso quer contar mesmo é com a ajuda dos moradores do bairro, como Fernanda, a quem elogia e deseja conhecer. “A convido para vir à Setur e conhecer o projeto em andamento.”
Pioneira, Fernanda quer voz e voto para crianças
Convicta de que idade não é impedimento para cidadania, Fernanda Lima é pioneira na iniciativa de apresentar moção reivindicando direito a voz e voto às crianças nas Conferências dos Direitos da Criança e do Adolescente. Atualmente, esse direito se restringe à idade mínima de 12 anos.
Aluna da Escola Municipal Wilson Guedes e do PIC Melvi, Fernanda foi eleita para representar a Cidade na III Conferência Lúdica Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente, de 11 a 13 deste mês, em São Paulo, quando decidiu propor a alteração, que será levada à conferência nacional. Se aprovada, ampliará a participação infantil nesses eventos. A próxima conferência estadual deve acontecer de 27 a 29 deste mês, na Capital.
A presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Praia Grande (CMDCA), Christine Marote, não só aprova como estimula a mobilização infanto-juvenil. Ela lembra que, nesta conferência lúdica, Praia Grande ficou com a segunda titular entre os adolescentes: Amanda Macedo Dantas, da Escola Municipal Maria Nilza Romão e participante do PIC Vila Sônia. “Essas crianças e adolescentes são agentes transformadores que, com suas ações, mostram novos cidadãos em formação”, concluiu Christine.
“Quando vou para a cachoeira vejo muitos plásticos no chão. Isso é muito triste”, afirma Fernanda. No Programa de Integração e Cidadania (PIC) Melvi, onde cursa teatro, a estudante tenta sensibilizar colegas e propõe reforço pedagógico para estimular a preservação. “Acho que uma professora consciente tem de ensinar os alunos a preservar a natureza.”
Nada passa ao seu olhar atento: dos que jogam detritos em áreas baldias nas ruas do bairro aos que sujam o rio Preto com materiais que poderiam ser reciclados. “As pessoas sujam muito o local com lixo. Quando esquecem de colocar para o lixeiro recolher, jogam nos terrenos e isso é muito ruim porque o plástico, as garrafas e as sacolas demoram a desaparecer”.
Pai herói – Fernanda aprendeu a proteger a natureza com o pai, Marcel Arancibia, não apenas em longas conversas, mas também em expedições ao manancial. Compositor e bacharel em Turismo, ele é casado com Heliane, que estuda Artes Plásticas, e pai de Isabela e Ivã (de 8 e 13 anos, respectivamente).
“Desde pequenos eles têm noção de como deve ser a relação com a natureza. Moramos muito perto da cachoeira e do rio, que é navegável e vai até a ponte do Mar Pequeno”, conta, citando que a filosofia de amor às plantas e animais passa de geração a geração. “Meus pais já se preocupavam com os problemas que estão acontecendo no mundo.”
O compositor explica que decidiu se formar em Turismo para divulgar recantos aprazíveis sem que essa exposição seja prejudicial. “Quando falamos de ecologia e meio ambiente, começamos a nos preocupar com esse impacto. São Tomé das Letras (MG), por exemplo, foi devastada”, exemplifica.
Na educação dos filhos, a música serve de instrumento para a conscientização. “Trabalho com arte-educação; minha proposta é voltada para o meio ambiente”, prossegue. “Atualmente, desenvolvo projeto de identificar os animais da Mata (Atlântica), da Costa. Meus filhos participam comigo; aprovam ou desaprovam as músicas; são meu termômetro.”
Planos – Ainda longe dos bancos universitários, Fernanda já se definiu pela ecologia, seja como estilista, incorporando materiais recicláveis à moda, ou no tratamento de animais selvagens. “Gosto dessas duas coisas.”
Ao completar 10 anos de idade (26 de setembro), Fernanda espera um mundo melhor no futuro. Questionada que presente de aniversário gostaria de ganhar, ela faz silêncio por alguns segundos e diz: “Queria que as pessoas soubessem mais sobre o meio ambiente.
Elas ficam devastando, jogando muito lixo. Queria que elas soubessem o que fazem de ruim para a natureza, que pensassem nisso e não fizessem mais”.
Setur elabora projeto para evitar degradação
Oficialmente, a trilha da Cachoeira de Guariúma não está aberta ao público. A Secretaria de Turismo (Setur) elabora amplo projeto que visa abrir o lugar à visitação sem que isso traga impactos negativos.
Profundo e detalhado, o trabalho já dura três anos. Estabelece regras dentro de técnicas e normas vigentes no setor, avalia capacidade de carga do ecossistema e orienta a inclusão social na preservação da fauna e flora, entre outros aspectos.
Bacharel em Turismo e pós-graduado em Educação Ambiental, o secretário de Turismo, José Alonso Júnior, explica que vários fatores são considerados antes da aguardada abertura. “Seria muito fácil definir trilhas e abrir ao público, mas queremos liberar com regras, temos essa responsabilidade”, prossegue. “Hoje algumas pessoas vão até o local, a maioria para degradar, infelizmente.”
A idéia é, inicialmente, permitir apenas o turismo contemplativo, uma vez que se trata de área de captação de água. Também haverá limite do número de visitantes segundo o fluxo que a cachoeira suporta. “Hoje, no máximo, 20 pessoas de manhã e mais 20 à tarde.”
Com a futura criação da Guarda Municipal Ambiental, um grupo da Guarda Civil, a fiscalização será intensa. Mas Alonso quer contar mesmo é com a ajuda dos moradores do bairro, como Fernanda, a quem elogia e deseja conhecer. “A convido para vir à Setur e conhecer o projeto em andamento.”
Pioneira, Fernanda quer voz e voto para crianças
Convicta de que idade não é impedimento para cidadania, Fernanda Lima é pioneira na iniciativa de apresentar moção reivindicando direito a voz e voto às crianças nas Conferências dos Direitos da Criança e do Adolescente. Atualmente, esse direito se restringe à idade mínima de 12 anos.
Aluna da Escola Municipal Wilson Guedes e do PIC Melvi, Fernanda foi eleita para representar a Cidade na III Conferência Lúdica Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente, de 11 a 13 deste mês, em São Paulo, quando decidiu propor a alteração, que será levada à conferência nacional. Se aprovada, ampliará a participação infantil nesses eventos. A próxima conferência estadual deve acontecer de 27 a 29 deste mês, na Capital.
A presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Praia Grande (CMDCA), Christine Marote, não só aprova como estimula a mobilização infanto-juvenil. Ela lembra que, nesta conferência lúdica, Praia Grande ficou com a segunda titular entre os adolescentes: Amanda Macedo Dantas, da Escola Municipal Maria Nilza Romão e participante do PIC Vila Sônia. “Essas crianças e adolescentes são agentes transformadores que, com suas ações, mostram novos cidadãos em formação”, concluiu Christine.