Diagnóstico precoce prolonga vida de portadores de HIV

Estudo do governo federal aponta que tratamento tardio aumenta as chances de óbito

Por Nádia Almeida | 15/2/2008

“Positivo”. Com medo de ver a palavra em um resultado que revela a presença do vírus HIV no corpo, muitos brasileiros postergam o teste e, com isso, as chances de tratar a doença. Sem saber que são portadores, podem transmiti-la aos parceiros sexuais em relações sem preservativo. Relatório intitulado “Resposta Brasileira à Epidemia de Aids 2005-2007”, do governo federal, aponta que 43,7% das 115.441 pessoas que iniciaram tratamento entre 2003 e 2006 começaram tarde. Destes 50.393 pacientes, 28% (ou 14.462) morreram no início da terapia.

Com os últimos avanços da medicina, a Aids deixou de ser vista como sentença de morte. Apesar de incurável, medicamentos e procedimentos aumentam a sobrevida e garante uma vivência normal. Os próprios efeitos colaterais das medicações já não são tão intensos.

Em Praia Grande, uma estrutura coordenada pelo Programa Municipal DST/Aids/Hepatites trabalha para conscientizar a população sobre a importância do exame, que deflagra todo o processo de tratamento. O Centro de Testagem, Aconselhamento e Prevenção (CTAP) oferece exames gratuitos para detecção não só de Aids, como sífilis e hepatites B e C, acolhendo os que descobrem que são portadores e desenvolvendo ações preventivas junto à população. No prédio de fachada discreta, na Avenida Presidente Kennedy, 2.030, Bairro Guilhermina, a unidade funciona no primeiro andar.

Receber a notícia de que se tem Aids é sempre um momento difícil, uma vez que o vírus HIV ainda carrega consigo todo um estigma social. Pode até ser trágico se a pessoa não tiver quem a oriente. No CTAP, esse apoio começa antes do teste e prossegue até o encaminhamento ao Serviço de Assistência Especializada (SAE), que funciona anexo, no andar térreo, como informa a psicóloga Letícia Zampieri Temaco Lázaro, responsável pelas atividades de prevenção.

Quem chega para fazer os testes, mas está em dúvida ou ansioso, tem a opção de passar por uma psicóloga antes da coleta. “Fazemos esse acolhimento no pré-teste, que funciona como uma preparação da pessoa. Estamos aqui para recebê-la e ver se ela está no momento certo de testar ou não”, esclarece.

Cartão - Para realizar os exames é preciso apresentar documento de identificação com foto (geralmente carteira de identidade) na recepção. Uma ficha é preenchida e um cartão de agendamento é entregue ao usuário, com seu nome completo, data de nascimento, número do registro no serviço e data de entrega dos resultados. Um funcionário do CTAP acompanha a pessoa até o SAE, onde as amostras de sangue são colhidas.
Na data marcada para retorno, os resultados são entregues por uma psicóloga, que abre junto o envelope. “Fazemos um levantamento de sua vulnerabilidade e mostramos o que deu”. Quando o resultado se apresenta positivo, uma segunda testagem é feita para confirmação. “Em caso de necessidade, a encaminhamos ao serviço adequado”.

Orientada sobre a doença que possui, a pessoa é acompanhada por um funcionário do CTAP até o SAE, onde consultas são agendadas com médico infectologista, psicóloga e assistente social. “Ela sai orientada e se sentindo mais segura”, explica.

Todos vulneráveis - Letícia reforça que a testagem é importante para proteger os parceiros, e iniciar o tratamento o quanto antes. O maior obstáculo no trabalho de conscientização sobre a importância do uso de preservativo e realização de exames é a crença de que se está fora de risco. “Na verdade, todo mundo é vulnerável; qualquer pessoa. Hoje não existe grupo de risco, mas comportamento de risco, e isso qualquer um pode ter, homem, mulher, adolescente, idoso”, alerta.

Pelo relatório do governo federal divulgado essa semana, a situação mais preocupante do diagnóstico tardio atinge homens e pessoas com mais de 40 anos, de ambos os sexos (53%). Cerca de 50% dos homens procuram o tratamento quando a situação está mais grave. Entre as mulheres atingidas pelo estudo, o índice é de 36%, considerando que o teste que revela Aids faz parte dos exames pré-natais.

Cientes de que os homens não fazem dos cuidados com a saúde uma rotina, a Equipe de Prevenção desenvolve ações junto aos trabalhadores da construção civil, uma das principais atividades econômicas da Cidade. Regularmente, os técnicos vão a campo, nos canteiros de obras, falar sobre riscos e distribuir preservativos. Para facilitar a linguagem, o Programa DST/Aids/Hepatites produziu um material específico para esse público, como um disco ilustrado que traz respostas para as dúvidas mais comuns.
A equipe também comparece a bailes da Terceira Idade e escolas, adequando a abordagem para cada faixa etária.

Preservativos - O CTAP oferece preservativos gratuitos, bem como material informativo com ênfase na utilização desse tipo de contraceptivo, o único capaz de evitar o contágio com as DSTs, além de uma gravidez indesejada. Vale lembrar que as 20 unidades básicas de saúde (Usafas e multiclínicas) também disponibilizam preservativos aos usuários.

A opção para o preservativo masculino, muitas vezes rejeitado pelos homens, é a versão feminina, que confere maior autonomia às mulheres no que se refere à proteção, mas ainda é pouco conhecida. Letícia explica que por ser algo relativamente novo e mais caro que a camisinha tradicional, a feminina exige um cuidado maior na distribuição, exclusiva do CTAP.

“Demonstramos e entregamos algumas unidades para a interessada experimentar. Se ela usar e aprovar, faz cadastro e recebe uma cota mensal”, informa. “É uma forma de se prevenir sem ter de convencer o parceiro mais resistente. As mulheres estão aprendendo a usar”. O atendimento no CTAP ocorre de segunda a sexta-feira, das 8 às 15 horas. O telefone é 3473.3351.

O Ministério da Saúde estima que 600 mil pessoas vivam com Aids no Brasil. A Secretaria de Saúde de Praia Grande registra 1.420 casos no Município, pelo último levantamento.